quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Por uma alimentação realmente saudável

Por Daniela Frozi
6 de outubro: dia mundial da alimentação. Uma data festiva que teve seu início em 1981 e é atualmente comemorada em mais de 150 países. Tornou-se uma importante maneira de resgatar a consciência sobre o ato alimentar, inclusive conscientização política relacionada com os diferentes desafios que a alimentação representa para a sociedade e para o planeta como um todo. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) dá destaque à data e ajuda a aumentar a compreensão de problemas e soluções na busca pela erradicação da fome.

Modelos de produção de alimentos baseados em formas insustentáveis de desenvolvimento colocam em risco o meio ambiente e as pessoas, ameaçam o fim das tradições alimentares por causa da padronização dos alimentos feita pela indústria e avançam sobre a biodiversidade dos ecossistemas alimentares. 


Os clamores individuais de grupos sociais por profundas mudanças em nossa agricultura e nosso sistema alimentar se tornam um clamor coletivo da sociedade. Neste dia especial, o que está posto são diferentes perguntas reflexivas. Por exemplo: como seria um sistema alimentar sustentável? É possível passarmos da situação atual para essa proposta? O que precisaria ser mudado e o que precisaria ser mantido para nos mover nessa direção? O Dia Mundial da Alimentação de 2013 é uma oportunidade para refletirmos sobre essas e outras questões, e ajudarmos a construir, de fato, um futuro que nós queremos. 



Reconhecemos a centralidade do tema da alimentação no Brasil, principalmente no que incide sobre nossos específicos grandes desafios, como: o uso abusivo de agrotóxicos, a intensa liberação de sementes transgênicas e a forte presença de alimentos ultraprocessados oriundos das indústrias de alimentos transnacionais, que produzem e disponibilizam cada vez mais alimentos baratos e com alto potencial nocivo à saúde humana. 



Sabemos que os agravos à saúde humana, provocados por um sistema alimentar insustentável, não se resumem ao problema da obesidade. Parece haver uma lacuna nas notificações de doenças agudas e crônicas relacionadas ao impacto dos agrotóxicos e aos alimentos geneticamente modificados, que vai desde prejuízos mais simples como alergias alimentares até doenças como o câncer. 



Não dá mais para falarmos sobre alimentação saudável sem que isso nos faça pensar sobre o que significa realmente ser saudável. Alimentos e nutrientes não compõem a totalidade do termo “saudável” na alimentação. O que é saudável, de forma alguma, pode ser resumido apenas aos componentes nutricionais ativos potencialmente benéficos à saúde. 



Atualmente temos uma construção mais ampla e profunda sobre o conceito de alimentação saudável. É importante saber se esta alimentação dita saudável é livre de injustiças sociais, como o trabalho infantil e o trabalho escravo. O que comemos é livre de agrotóxico e de transgênicos? Nossa alimentação é rica em biodiversidade? É adequada à cultura local? É baseada em sistemas produtivos solidários como os da agroecologia? A alimentação saudável deve ser mais parecida com o que nossos avós reconheceriam como comida. Sendo assim, ficam de fora todos os alimentos ultra-processados pela indústria (prontos para o consumo, mas com alto teor de gorduras, sal e açúcar). 



Para construirmos coletivamente um conceito mais exato de alimentação saudável precisamos convocar mais atores de nossas redes e movimentos sociais da sociedade civil organizada para:

- Somarem forças na participação social;
- Encontrarem espaços propícios para a ação e a reflexão sobre a alimentação saudável;
- E se envolverem em processos de monitoramento do direito humano à alimentação adequada e exigir que esse direito seja viabilizado para todos e todas.
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Daniela Sanches Frozi é doutora em Nutrição, tem gasto seu tempo apoiando e construindo políticas públicas da alimentação, especialmente para os que vivem em extrema pobreza no Brasil. É membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (representante de RENAS) e 1a vice-presidente da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Artigo publicado originalmente em Novos Diálogos

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