sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Haiti é aqui

Por Wellington Santos*

Desde a última sexta-feira, dia 18 de junho, temos sofrido com o cenário de guerra e o rastro de destruição, causados pelas últimas chuvas que caíram em Pernambuco e Alagoas. Os números ainda não são seguros, o fato, porém, é que muitas vidas se foram, cidades como Santana do Mundaú e Branquinha foram totalmente arrasadas e destruídas pelas correntezas.

Estive visitando Lourenço de Albuquerque em Rio Largo, Utinga e Murici. Quanta dor, destruição, tristeza e imensa necessidade. É importante destacar entretanto, que o cenário de miséria e pobreza que nos deparamos não é fruto desta tragédia natural da última sexta-feira,mas resultado de anos de corrupção, desvio de verbas públicas, coronelismo, preguiça e irresponsabilidade eleitoral por parte do povo que escolhe muito mal seus representantes. É bom ficar de olhos bem abertos para não culparmos as chuvas e a natureza, livrando assim os maus gestores públicos e porque não dizer, livrando nossa parcela de culpa, quando fazemos negociatas e ou trocamos novo precioso voto por “favores” vergonhosos.

O Pr. Reginaldo Silva, da ONG alemã Kindernothilfe, que atua no nordeste na proteção e cuidado social com crianças afirma: “Venho aqui me solidarizar com os alagoanos e alagoanas que foram vítimas diretas da tragédia causada, não pelas chuvas, mas pela falta de políticas sociais que não resolve os problemas das ocupações desordenadas, da falta de moradia, de educação ambiental etc. Se observarmos bem, veremos que é a falta destas e de outras coisas que causam tragédias como a mais recente”.
Precisamos agora arregaçar nossas mangas, por a mão na massa, repartir o pão e partir para livrar nossos irmãos e irmãs mais frágeis e desprotegidos desta situação de caos. Contamos com a colaboração de todas e todas que porventura lerem esta breve reflexão. Precisamos arrecadar colchões, lençóis, toalhas, agasalhos, água potável, cestas básicas, móveis usados, etc.

Continuemos orando, repartindo o pão e atentos aos maus políticos que ainda por cima, como abutres, irão tentar tirar proveito desta situação. Concluo citando o cantor e compositor Gilberto Gil, concordando plenamente com ele, quando afirma: O Haiti é aqui. Posso afirmar com toda convicção, que o Haiti é em Alagoas: 42% de analfabetos, 92% da população ganhando até 2 salários mínimos, concentração de renda e de terra, monocultura da cana de açúcar que enriquece uma minoria e empobrece a grande maioria, violência galopante, índices sócias críticos e agora some-se a tudo isto, 50 mil desabrigados e cidades inteiras destruídas
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Wellington Santos é pastor da Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió-Alagoas.

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Ore e deixe sua mensagem: para enviar uma mensagem de solidariedade ao pastor Wellington Santos, deixe seu comentário aqui e a Rede FALE encaminhará sua resposta.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Campanha pela aprovação da PEC da Juventude

Participação na campanha ocorre através de mensagens enviadas pelo Twiter

Apostar na juventude é prerrogativa para um país forte, pleno e desenvolvido. Essa é a certeza que impulsiona o trabalho do Conjuve - Conselho Nacional de Juventude que, até o final deste mês, intensifica a campanha pela aprovação da PEC da Juventude. De acordo com a decisão tomada na 21ª Reunião Ordinária do Conjuve, realizada em Belo Horizonte dias 07 e 08 de junho, o objetivo é pressionar o Senado a votar a matéria antes do início da campanha eleitoral.

A Campanha, além de mobilizar junto aos senadores, será focada no ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e atingirá os líderes do Senado, em especial Romero Jucá. O líder do governo já afirmou no plenário do Senado que lutará pela votação da PEC em um único dia. Os lideres de todos os partidos de governo e oposição também serão procurados.

Para Danilo Moreira, presidente do Conjuve, a aprovação da PEC da Juventude seria a demonstração de que existe compromisso com 50 milhões de brasileiros e brasileiras entre 15 e 29 anos. "Esta PEC é indispensável para o fortalecimento das políticas de juventude, é a nossa principal bandeira para 2010. Estamos trabalhando pela sua votação final no Senado a mais de um ano. Construímos um consenso entre os Senadores do governo e da oposição sobre a matéria e entendemos que sua votação é plenamente possível. Não podemos pensar em país desenvolvido se não apostarmos na juventude", enfatizou.

A PEC da Juventude é uma bandeira da 1ª Conferência Nacional de Juventude, que envolveu mais de 400 mil participantes. Os defensores e as defensoras da aprovação da PEC já ocuparam as galerias do Senado por duas vezes, solicitando a aprovação - veja aqui matéria publicada no blog do FALE.

Existe consenso em torno da aprovação da PEC da Juventude, tanto de parlamentares de oposição, quanto do governo. A proposta já passou por todas as comissões no Parlamento e foi aprovada por unanimidade em cada uma delas. Contudo, a matéria espera aprovação desde junho de 2008.

Como participar da campanha

A campanha terá o Twitter como principal ferramenta, e os jovens do país inteiro podem enviar textos para os senadores do seu estado solicitando a aprovação da PEC. Algumas dicas que podem ajudar na mobilização:

1. Conheça os argumentos da PEC da Juventude, faça o download do caderno da PEC aqui e entregue ao senador de seu estado, peça que ele se manifeste publicamente sobre o tema.

2. Reforce seu pedido de aprovação da PEC da Juventude para o Ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha - pelo Twitter - é ele quem define, juntamente com os líderes do senado, as votações.

3. Leia abaixo a listagem de senadores e a sugestão de texto, e envie e-mail e tweet para os líderes do senado. São eles quem definem a ordem das votações no senado. A manifestação via Internet mostrará para os parlamentares que estamos interessados e acompanhando passo-a-passo a tramitação da PEC. (Inclua na mensagem a tag #pecdajuventude).


Sugestão de texto para twitter:
Caro@senadorjuca solicito seu compromisso com a rápida votação da #pecdajuventude

Prezado Ministro @padilhando solicitamos seu empenho para rápida aprovação da #pecdajuventude


Lista de contatos dos líderes no Senado e do ministro das Relações Institucionais


Ministro-Chefe da Secretaria de Relações Institucionais:
Alexandre Padilha - @padilhando

Líder do Governo:
Romero Jucá - PMDB/RR
romero.juca@senador.gov.br - @senadorjuca

Bloco de Apoio ao Governo:
Aloizio Mercadante - PT/SP
mercadante@senador.gov.br - @mercadante

Líder da Minoria (interino):
Alvaro Dias - PSDB/PR
alvarodias@senado.gov.br - @alvarodias_

Líder do PSB:
Carlos Valadares - PSB/SE
antval@senador.gov.br - @valadarespsb

Líder do DEM:
José Agripino Maia - DEM/RN
jose.agripino@senador.gov.br - @joseagripino

Líder do PCdoB:
Inácio Arruda - PCdoB/CE
inacioarruda@senador.gov.br - @inacioarruda

Líder do PDT:
Osmar Dias - PDT/PR
osmardias@senador.gov.br - @osmardias

Líder do PSDB:
Arthur Virgilio - PSDB/AM
arthur.virgilio@senador.gov.br - @senadorarthur

Líder do PSOL:
José Nery - PSOL/CE
josenery@senador.gov.br - @senadorjosenery

Líder do PT:
Aloizio Mercadante - PT/SP
mercadante@senador.gov.br - @mercadante

Líder do PV:
Marina Silva - PV/AC
marinasi@senado.gov.br - @marina_silva

Fonte: Portal da Juventude

Leia mais:
+ Aprovação da PEC da Juventude na Câmara
+ Avaliação da PEC da Juventude ex-conselheiro da Rede FALE no Conjuve
+ PEC da Juventude - texto completo
+ Conjuve pede a Lula prioridade para as políticas públicas de juventude
+ Senadores manifestam apoio à PEC da Juventude

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Protesto contra corrupção na Assembléia Legislativa do Paraná

Rede FALE Paraná sai às ruas em Ato Público pela ética na política

Milhares de manifestantes lotaram, nesta terça-feira, a Boca Maldita, no centro de Curitiba, em protesto contra a corrupção e pedindo ética na política. O motivo seria o resultado das investigações sobre a contratação de funcionários fantasmas e escândalos de corrupção que ocorrem desde abril, conforme matéria publicada pelo G1 – veja aqui maiores detalhes.

Segundo Douglas Rezende, da Rede FALE, “a Assembléia Legislativa do Paraná está envolvida em um escândalo sem precedentes em sua história, com decisões sendo tomadas por parlamentares na surdina, fora do Diário Oficial para esconder do povo seus atos, como a nomeação de funcionários fantasmas e desvio de verbas públicas”.

A manifestação foi liderada pela seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), motivada pelas investigações que apontaram, até agora, desvios de R$ 26 milhões por meio de nomeações de funcionários "fantasmas" na Assembleia Legislativa do Paraná. Pelo menos outros 12 municípios fizeram manifestações no mesmo horário.

Veja aqui vídeo produzido pela Rede FALE no Ato Público:


"O Brasil, através do Paraná, dá um grito de basta à corrupção, de basta à impunidade", disse o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, que esteve presente. Por meio da internet, a OAB recebeu a adesão de cerca de 500 entidades à campanha "O Paraná que Queremos" e coletou a assinatura de mais de 23 mil pessoas. Os manifestantes pedem a apuração de todas as denúncias levantadas e sugerem o afastamento da Mesa Diretora da Assembleia no período das investigações.


Fonte: O Estado de São Paulo

Leia também:

+ Da Gazeta do Povo: O Dia do Basta ; Paranaenses se mobilizam pela ética na Política

+ Do Estado de São Paulo: Manifestantes pedem ética na Assembléia Legislativa do Paraná

Saiba mais:

+ Portal Terra: Assembléia Legislativa do Paraná investigará atos secretos

+ Paraná Online: Assembléia Legislativa do Paraná tem 1.941 cargos comissionados

terça-feira, 8 de junho de 2010

Evangélicos, memória sócio-política, e formação de novas lideranças

Projeto "Juventude, Política e Religião" resgata atuação política de jovens evangélicos nas décadas de 1950-1960

Por Marcus Vinicius Matos*

O primeiro contato com o material é sempre marcado pela surpresa. Tanto o público acadêmico quanto o religioso são surpreendidos ao saber que a juventude evangélica brasileira defendeu em um passado recente, e de maneira organizada, bandeiras sociais e políticas consideradas "revolucionárias" - como reforma agrária, distribuição de renda e diversidade cultural. Mas o espanto não é de hoje. Nas palavras do sociólogo Waldo Cesar (1923-2007), um dos entrevistados no projeto, todos "ficavam surpresos em saber que a igreja evangélica estava pensando o Brasil em termos de uma nova nação".

Em 2005, um grupo de pesquisadores de várias partes do país se reuniu no Rio de Janeiro e na cidade de Mendes para realizar uma série de entrevistas com pastores, acadêmicos e lideranças da juventude evangélica das décadas de 1950-1960. O objetivo inicial era promover um resgate histórico da atuação política da juventude cristã em um período marcado na história do Brasil e da América Latina como tempos de grandes agitações, transformações e esperanças. No caso brasileiro, fortes oposições ideológicas acirraram disputas em torno das bandeiras do desenvolvimento e do nacionalismo na esteira dos processos de profundas mudanças sociais que afetavam o país: urbanização, industrialização, intensa mobilização política e progressivo amadurecimento democrático. O foco das entrevistas eram os jovens líderes do Setor de Responsabilidade Social da Igreja - ligados à extinta Confederação Evangélica do Brasil (CEB) - e da União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB), hoje com idades entre 60 e 80 anos.

Assim se iniciava um longo trabalho de pesquisa, coordenado pelos pesquisadores Flávio Conrado (ISER) e Alexandre Brasil (UFRJ), que coletou entre 2005 e 2006 aproximadamente 16 horas de entrevistas. Em 2007, o ISER inicia uma parceira com a Rede FALE - www.fale.org.br -, e o projeto ganha o apoio das organizações evangélicas Visão Mundial e Basiléia. Com este novo aporte, produziu-se um primeiro material audiovisual: o curta metragem "Cristo e o processo revolucionário brasileiro", que desde então vem sendo exibido em diversos eventos acadêmicos - como o XIV Congresso Brasileiro de Sociologia - e eventos promovidos por organizações da juventude evangélica.

Hoje, o projeto "Juventude, Política e Religião" é desenvolvido por ISER e Rede FALE, e já conta com o apoio do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI-Brasil), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e da Federação Universal de Movimentos Estudiantis Cristãos (FUMEC). O objetivo geral da pesquisa-intervenção é resgatar e analisar a memória relacionada à participação de jovens ligados às igrejas protestantes no movimento estudantil dos anos 1960; apresentá-la, e discuti-la com jovens evangélicos, estudantes e jovens de outras religiões. Para isso, serão produzidos mais vídeos - a partir do material de acervo disponível e da realização de novas entrevistas.

Assim, espera-se reunir informações e experiências que servirão de subsídio para a reflexão das gerações atuais acerca da participação sócio-política de jovens.

*Marcus Vinicius Matos é secretário executivo da Rede FALE, pesquisador associado do ISER - Instituto de Estudos da Religião, e cursa mestrado em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Fonte: Boletim Plural nº 15

sábado, 5 de junho de 2010

Diaconia recebe visita de representante da Rede FALE

Por Emanuel Rodrigues* 

redefale A Diaconia recebeu, ontem (3), a visita de Morgana Boostel, Secretária Executiva Adjunta da Rede Fale. A visita acontece a partir de um contato feito entre as duas organizações no ultimo encontro dos parceiros da Tearfund que aconteceu em São Paulo (SP). 

O objetivo é que a representante da Rede conheça as ações realizadas por Diaconia durante a VIII Semana do Meio Ambiente que acontece em Afogados da Ingazeira (PE) e as atividades desenvolvidas na área da agricultura familiar. Além disso, a visitante pretende pensar ações conjuntas que possam ser feitas posteriormente.   

Com isso, o Núcleo de Comunicação da Diaconia aproveitou para fazer uma entrevista com Morgana Boostel, que além de Secretaria Executiva Adjunta da Rede Fale, é psicóloga, mora em Vitória (ES), tem 23 anos, é membro da 1° Igreja Batista em Goiabeiras, fez parte da Aliança Bíblica Universitária (ABUB) e atualmente faz parte do Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE).  

Diaconia – O que é a Rede Fale?

Morgana – O Fale é uma rede de pessoas que oram e agem contra a injustiça em vários lugares do Brasil, também um processo de formação política e de conscientização das pessoas para os problemas econômicos e os impactos da desigualdade social. 

Diaconia – Como a Rede desenvolve suas ações em seus locais de atuação? 

Morgana – Nós promovemos campanhas de mobilização e oração que envolve uma temática. A proposta é distribuir por todo o país material de informação para a realização de ações e momentos de oração. A partir disso promovemos debates e outros eventos para a divulgação da campanha. 

Diaconia – Qual o maior desafio do Fale atualmente? 

Morgana – Precisamos trabalhar mais com os grupos locais para trabalhar nossas campanhas numa perspectiva que contemple as necessidades e desafios locais ou da região que o grupo está inserido. O objetivo é identificar os direitos que estejam sendo infligidos e trabalhá-los localmente. 

Diaconia – Você pode citar algum exemplo do que está sendo feito? 

Morgana – O grupo do local do Paraná vem realizando várias ações de conscientização da população para alguns problemas locais, eles vem realizando atos contra a situação dos transportes públicos, além disso, participaram da ultima Marcha para Jesus com faixas denunciando a situação dos órfãos, dos pobres e das viúvas e transformando o evento em Marcha com Jesus e em favor dos desassistidos e pela justiça social. Esse é só um dos vários exemplos que existem em nossos grupos.

Diaconia – Qual a expectativa da Rede Fale a partir dessa vista a Diaconia?

Morgana – Temos o objetivo de conhecer, aprender e somar com o que está sendo feito no campo da juventude, comunicação e outros campos de ação.  

Diaconia – Como está sendo feito o trabalho com as igrejas e quais avanços nessa área? 

Morgana – Como um de nossos objetivos é mobilizar as pessoas em oração pelos temas que trabalhamos temos tido uma boa aceitação tanto dos membros das igrejas como dos lideres e pastores. Nossa proposta é atuar cada vez mais junto das igrejas na realização de nossas campanhas. Um bom exemplo foi a participação das Assembléias de Deus de Belém (PA) durante a realização do Fórum Social Mundial em 2009, eles cederam espaço em seus programas de TV, pois  eles têm um canal de televisão, como deixaram uma equipe de jornalismo cobrindo todas as nossas atividades durante o Fórum.  

Diaconia – Tem sido positiva a participação da juventude evangélica nas ações da Rede? 

Morgana – A maior parte do público que atua no Fale é composto de jovens. O que temos hoje é uma grande participação dessa juventude em espaço de articulação política e de movimentos sociais, algumas vezes o número de jovens evangélicos nesses espaços tem sido tão significativo quanto aos que não são. Precisamos enquanto Rede continuar trabalhando na formação política da juventude cristã.

Diaconia – Sobre as Eleições 2010?

Morgana – Acreditamos que podemos potencializar os debates nas nossas redes locais sobre a importância desse momento para a sociedade. Olhar como um momento estratégico para a formação política. Independente de quem será eleito desejamos que exista um espaço de justiça social que possibilite reais mudanças nas áreas política, educacional e social que acabe com as desigualdades em nosso país. 

Diaconia – Sobre Meio Ambiente?

Morgana – Desde 2006 temos trabalhado esse tema, especificamente com a questão do saneamento ambiental em Marabá (PA), que foi tema de uma de nossas campanhas nacionais. O meio ambiente tem sido violado como um direito e precisa ser respeitado.  

Diaconia – Sobre Juventude? 

Morgana – Atualmente estamos no Conselho Nacional de Juventude e com o grande desafio de representar os nossos jovens nesse espaço de articulação mobilização política. Desde 2007, o tema juventude é um dos eixos da campanha nacional do Fale e temos o objetivo de fortalecer os espaços de controle social e articular com outros movimentos sociais a implementação de políticas públicas na área da juventude.  

*Emanuel Rodrigues trabalha no Núcleo de comunicação da Diaconia.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Segurança pública: as UPP em conflito

Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) reabrem debate sobre o papel da polícia nas comunidades do Rio de Janeiro

Por Marília Gonçalves

Duas horas da manhã. É quando as caixas de som da favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, devem ser desligadas, mesmo nos finais de semana. Os responsáveis por garantir que esta regra seja cumprida são os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do local, a primeira implantada no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008. Hoje, já existem outras oito unidades espalhadas por favelas da cidade.

Na madrugada de sábado, 22 de maio, o rapper Emerson Nascimento, conhecido como MC Fiell, foi preso por policiais da UPP por desrespeitar esta regra. Segundo ele, os policiais entraram no bar onde estava com amigos às duas horas da manhã pedindo que o som fosse desligado. Fiell então começou a ler, no microfone, a lei do silêncio, alegando que a festa poderia continuar com o som mais baixo. Neste momento, segundo o relato do artista, os policiais desligaram os equipamentos de som na tomada e lhe foi dada a voz de prisão por desacato à autoridade. Fiell ainda afirma que desceu as escadarias do Santa Marta sob agressões dos policiais.

Desde a implantação da UPP, os moradores do Santa Marta chamam a atenção para a relação entre a polícia e a comunidade. Uma queixa bastante comum era sobre o desrespeito nas revistas pessoais e buscas nas residências, questão que parece já estar superada. No entanto, outros conflitos com policiais da Unidade continuam surgindo. Foi o que motivou a organização comunitária Visão da Favela Brasil, da qual Fiell faz parte, a produzir a Cartilha Popular sobre Abordagem Policial. O objetivo da cartilha era esclarecer aos moradores quais são os seus direitos, e alerta-los acerca de situações de possível coação, como, por exemplo, a exigência de apresentarem documentos, já que a lei não obriga nenhum cidadão a isso.

Na Cidade de Deus, favela localizada na zona oeste do Rio de Janeiro que já recebeu uma UPP, também existem histórias de abusos de policiais. O Observatório Notícias & Análises conversou com o presidente da Associação de Moradores da comunidade, Alexandre Ferramenta, que relatou algumas delas. Os moradores que sofreram agressões não querem ser identificados, por questão de segurança. Segundo Alexandre, não são todos os policiais da unidade que praticam atos ilegais. Pelo contrário, apenas uma minoria deles que, nos finais de semana, com a saída do comandante, “se consideram donos da comunidade”. “Eles batem, agridem, xingam idosos, acabam com festas familiares. As lideranças não são contra o projeto da UPP, mas contra esse tipo de policial. Não queremos que a UPP vire uma milícia de farda”, explica ele.

Itamar Silva, do Ibase. Foto: Ratão Diniz / Imagens do Povo
Itamar Silva, do Ibase.
Foto: Ratão Diniz / Imagens do Povo

O objetivo de pacificar
Originalmente, os policiais da UPP são "uma tropa especializada e tecnicamente preparada para exercer ações de pacificação e manutenção da ordem nas comunidades carentes" (Decreto nº 41.650). O objetivo é formar uma polícia diferenciada, mais humana e menos militarizada para atuar dentro das favelas. Para o jornalista, morador do Santa Marta e coordenador do Ibase, Itamar Silva, o que causa este desequilíbrio entre teoria e prática é o tipo de orientação que vem sendo dada aos policiais, causando uma imprecisão sobre qual é o papel da polícia. “Eles estão atuando como organizadores do cotidiano da comunidade. O papel da polícia é tirar o tráfico? Então isto já está feito”, questiona.

Para Mário Pires, geógrafo e membro da coordenação do Observatório de Favelas, a questão dos conflitos está ligada à falta de mecanismos que controlem as ações da polícia pacificadora. “Tem que haver controle social sobre as UPPs. É importante que elas prestem contas à sociedade, que possuam legislação específica e que a sociedade conheça essa legislação”, afirma.

Itamar defende que a comunidade participe dos processos que dizem respeito ao território, definindo questões como a do som alto, por exemplo, buscando um acordo e evitando os exageros. A lei do silêncio existe e deve ser cumprida por todos, mas em muitos outros lugares da cidade essa pressão pela ordem não se dá da mesma forma. “Essas questões não devem ser tratadas pela polícia e de forma arbitrária. Assim, estamos apenas trocando um poder por outro. A médio prazo isso prejudica a cidadania”, diz. O jornalista afirma ainda que, se a lei que vale para outras áreas da cidade vale também para o Santa Marta, então os moradores desta comunidade devem ter garantido muitos outros direitos como saneamento e iluminação. “Vamos aplicar, então, todas as leis”, afirma. Mário conclui no mesmo sentido, lembrando que a presença do Estado é importante, mas que “as UPPs precisam ser acompanhadas de políticas integradas no campo da oferta de serviços e equipamentos”.

Fonte: Observatório das Favelas