quinta-feira, 23 de julho de 2015

Identidade, Testemunho e Esperança: a Rede FALE e os desafios do futuro.

Carta a reunião da Coordenação Nacional da Rede FALE (24 a 26 de Julho de 2015)

De: Marcus Vinicius Matos*

Tu te aproximaste quando a ti clamei, e disseste: "Não tenha medo".
Senhor, tu assumiste a minha causa; e redimiste a minha vida.
  
Com esta mensagem, gostaria de contribuir, ainda que a distância e de maneira fragmentada, com o encontro, as orações e os debates que vão ocorrer na próxima reunião da Coordenação Nacional da Rede FALE (CNRF). Já se passaram três anos desde que sai do Brasil para estudar, então é inevitável que este texto seja rasgado de memórias e emoções confusas - alegria, tristeza, saudades, aflições e esperança. Vou tentar resumir todos esses sentimentos em três palavras: Identidade, Testemunho (mensagem), Esperança.

Identidade 
A questão que mais foi discutida em Encontros Nacionais do FALE anteriores, e em reuniões como essa que se aproxima, é: “o que é o FALE?”. Essa foi uma pergunta tão recorrente na história da Rede, que as vezes ela chegava a cansar algumas pessoas. No entanto, entender quem somos, definir nossa identidade, é parte central da Missão e do Testemunho que o FALE profere. Em João 3:1-10, nós vemos claramente a consequência de não saber sua própria identidade: Nicodemos, uma “autoridade entre os judeus”, se chega a Jesus mas, porque não sabe quem é, também não reconhece aquele com quem dialoga. Ele chama Jesus de “Mestre”, mas não o reconhece imediatamente como Salvador, Messias - talvez mais um mestre, como ele também entendia que era. Na sequencia do texto, vemos o contrário: João Batista sabe exatamente quem é; por conta disso, não tem dúvidas a respeito de quem é Jesus. Sem titubear, profere (v28 e 30): "Vocês mesmos são testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo, mas sou aquele que foi enviado adiante dele”; "É necessário que ele cresça e que eu diminua”. Então, é preciso se conhecer, para poder reconhecer o Mestre. 

Depois, saber quem somos é central também para definir o que queremos. Isso ocorre tanto na dimensão macro, quanto na micro: se não sabemos o que é o FALE, como seria possível entender as diferentes possibilidades de atuação que se abrem diante da Rede? Ainda faz sentido ser “rede” ou "movimento social” em um universo permeado de “redes sociais”? A difusão de “grupos” online, facilita ou dificulta a dinâmica de “grupos locais”? Qual é, afinal, o papel da "coordenação nacional”? Todas essas são perguntas menores que, assim como a primeira, só podem ser respondidas por nós mesmos.   

Testemunho
A última tentativa de responder a essa clássica pergunta foi feita no Encontro Nacional de 2013. Naquela ocasião, houve um esforço prévio tanto da Coordenação Nacional quanto das Redes Estaduais e Grupos locais para colocar no papel essas respostas. Com a dinâmica das decisões que se tomaram, os textos acabaram não correspondendo a nova dinâmica da Rede. Contudo, creio que é preciso retomar aqueles textos, alterá-los - talvez transforma-los em imagem? -, como pré-requisito para darmos um novo passo. Nesse sentido, é preciso repensar a maneira como nos comunicamos enquanto Rede. A forma como as informações fluem no FALE tem que refletir a mensagem que pregamos, nosso Testemunho mesmo. É preciso que a comunicação ocorra com clareza e com justiça.


Penso que a Coordenação Nacional deve, com leveza e carinho, decidir como comunicar. E aqui, talvez seja importante dizer: isso que chamamos de “Coordenação Nacional” surgiu exatamente para que possamos compartilhar decisões. Até 2005, o FALE era formado por poucas pessoas, e conforme a rede cresceu, foi necessário surgir a CNRF, exatamente para descentralizar e democratizar as decisões. Nós estamos hoje coordenadores, exatamente para termos a possibilidade de coordenar - o que, as vezes, requer assumir os riscos e responsabilidades de tomar decisões. É necessário que nós, membros da CNRF, saibamos "o que é o FALE”. Se não soubermos quem somos, certamente não saberemos o que precisamos fazer. A consequência disso seria a perda de capacidade de mobilização da Rede: se nos silenciarmos, ou se enviarmos mensagens ambíguas para as pessoas, elas não compreenderão quem somos; qual é a nossa missão; qual é o nosso testemunho. E precisamos reafirmá-lo.

Esperança
Até aqui, talvez eu tenha ficado restrito ao que “foi” o FALE. E quero dizer que, ao trazer a memória essas questões, o Espírito Santo me enche de Esperança! Quantas coisas foi o FALE até aqui. Lembro do FALE como ponto de encontro: estudantes, sindicalistas, pastores, que se reuniam para orar por justiça - uma oração que mudava a cada um, nos levava a refletir e a agir. Lembro do FALE como uma procissão redimida: jovens crentes caminhando em passeata por ruas, universidades e favelas. Lembro do FALE como movimento: cartões, cultos públicos, encontros, congressos, debates. Por toda essa história que temos hoje, creio que estamos vivendo um momento singular.
 
Na Teologia da Missão Integral, nós somos chamados a “ver”, “sentir” e "agir”. Quero desafiar vocês a fazer esse exercício neste encontro da CNRF. Precisamos ter visão: o que está acontecendo no Brasil e na Igreja Brasileira? Como nos comunicamos com as pessoas, nossos irmãos de fé em nossa igreja local/grupo bíblico universitário? Depois, precisamos ter sensibilidade: quais são nossos sonhos coletivos? Ao ver a realidade ao nosso redor, o que se passa no coração de vocês? A partir do “ver” e do “sentir”, é que teremos capacidade de construir projetos e campanhas em conjunto, envolvendo pessoas, mobilizando recursos. 

Por fim, quero que esse texto seja uma mensagem de esperança, mas também de desafio. O que será o FALE no futuro? Por que caminhos precisamos andar? Qual de vocês sabe a resposta? Minha oração é para que Deus nos ajude nessa tarefa: que possamos testemunhar a partir do que somos. Se Cristo amou cada um de nós, da maneira que somos, é desse amor que precisamos e do qual temos que testemunhar. No âmbito da CNRF, que saibamos exercer liderança com amor, unidade, e a amizade na diversidade.

Desejo um ótimo momento de Encontro para a CNRF. E deixo um grande e saudoso abraço a cada uma e cada um.

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* Marcus Vinicius Matos é doutorando em Direito pelo Birkbeck College, na Universidade de Londres, e membro da Coordenação Nacional do FALE desde 2005. Foi Secretário Executivo da Rede entre 2009 e 2011.