quinta-feira, 31 de maio de 2007

QUEM É O JOIO?

Ariovaldo Ramos*

Estava conversando com um amigo sobre o sermão que ele havia pregado a partir da parábola do trigo e do joio. A parábola em que Jesus diz que Deus semeou as pessoas boas e o Diabo semeou as pessoas más. Significando que há seres humanos que, na vida, se aliam a Deus para fazer o bem, enquanto outros se aliam ao Diabo para fazer o mau.

Os que são tidos como joio, são os que vivem de maldade em maldade sem nenhuma reserva moral. Segundo Cristo este grupo de pessoas continuará o seu caminho e só será separado no final, no dia do grande juízo, isto porque não é tão fácil distinguí-los, eles podem se parecer com o trigo por boa parte do tempo.

Começamos a nos perguntar quem seria o joio? E, enquanto analisávamos as várias possibilidades, o caso de barbárie cometida contra o menino João Hélio invadiu nossa conversa e se impôs, afinal, estamos diante do mais profundo significado do que seria a maldade, a barbárie.

Quem seria o joio nesse caso tão brutal?

Um grupo de jovens sai munido de revólveres de brinquedo para conseguir dinheiro para o consumo de drogas, e acabam por provocar uma tragédia que comociona toda a nação.

Gente que sai munido de arma de brinquedo, por acaso sai premeditando um desastre, uma tragédia, uma barbárie? Parece-me difícil pensar que sim. Causa mais a impressão de que as coisas saíram de controle e, então, a barbárie.

Não há desculpas, eles precisam ser responsabilizados. Mas quem é o joio? Quem está provocando esse estado de coisas que cria a pressão necessária para um ato dessa natureza?

Por que esses moços estão nas drogas? A quem devem? Por que tanto desespero? O que parece ter-lhes tirado toda a sensibilidade? O medo do linchamento? A conclusão de que se fossem alcançados seriam mortos sem misericórdia? Teriam chegado à conclusão terrível de que eram eles ou o menino? No que esses rapazes estão inseridos?

Quem é o joio?

Como eles se tornaram viciados? Quem lhes levou à droga? A quem estariam devendo ao ponto do desespero? E quem trouxe a droga ao seu fornecedor? Como esse comércio se mantem inabalável? Como conseguem trazer os produtos que vendem? Por que não adianta prendê-los? Eles continuam a gerir os seus negócios de dentro das prisões. Aliás, as prisões se tornaram quartéis generais de grupos cada vez mais organizados? Como um estado paralelo consegue se desenvolver sem a conivência do estado oficial?

Quem é o joio?

É sempre mais fácil apelar para as soluções que parecem mais simples. Afinal, temos os responsáveis, eles confessaram. Mas, isso é assim tão simples? Executá-los seja de que forma for resolverá o problema? A violência de que são responsáveis reside neles mesmos, de modo que basta pará-los? Ou serão eles apenas a ponta de uma complexa máquina de maldades fomentada pelo lucro fácil, por um Estado conivente e por toda sorte de corrupção da máquina pública?

Quem é o joio?

Mais uma vez fala-se sobre a diminuição da idade para a responsabilização criminal. Então, a idéia é encher as cadeias de meninos e meninas menores de dezoito anos? Certamente não é para diminuirmos os crimes. Nossas instituições prisionais estão abarrotadas, não há espaço. Há um considerável número de condenados que simplesmente não podem ser presos por falta de lugar. Celas para quatro pessoas abrigam mais de uma centena. Ouvi que o juiz, que está cuidando do caso, proporá que os menores devem ser reclusos por cinco anos ao invés de três anos, como reza a lei. A justificava dele é que serão melhor recuperados pelas medidas sócio-educativas de que serão alvo nesse tempo. De que medidas sócio-educativas ele está falando? Do que acontece nos institutos de reclusão de menores, como na antiga Febem, em São Paulo, agora chamada de Casa? Como se mudar o nome de uma anomalia a tornasse menos anômala.

Quem é o joio?

Estamos todos de luto, sem dúvida! Mas, já não deveríamos ter vestido luto quando meros trabalhadores foram incinerados dentro dos veículos que são obrigados a utilizar para se deslocarem? Como esses pobres seres humanos se chamavam? Alguém se lembra? Já não deveríamos ter feito passeatas por eles? Os responsáveis por esses crimes contra os trabalhadores pobres não saíram com armas de brinquedo, eram tão ou mais jovens dos que os responsáveis pela barbárie que nos escandalizou, eles estavam sob comando, haviam recebido uma ordem cruel, e eles encheram a cabeça com toda a sorte de alucinógenos para poder cumpri-la. Quem deu a ordem? Por que não foram responsabilizados? Os criminosos devem ser plenamente responsabilizados, mas não é tão simples reunir todos os criminosos. É mais fácil punir os mais próximos, e eles devem ser punidos, mas não importa quão rigorosa seja a punição que recebam, não será esta punição que interromperá a violência.

Quem é o joio?

Tenho ouvido de muitos, sobre esse caso: os próprios presos darão um jeito neles, eles vão ver só. Como não há pena capital no país, aceita-se a punição paralela, impetrada pelos próprios reclusos como execução da Justiça, sancionando-se, assim, a existência do Estado paralelo. Estamos de luto! Mas já deveríamos estar trajando o negro há muito tempo. Principalmente, pela sociedade que temos construído nesse país; pelo sistema econômico que temos implantado; pelo nível de injustiça social com que convivemos sem crise. Pelo comportamento de nossos governantes em todas as esferas do Estado. Pelo nível de corrupção da máquina estatal.

Certamente, temos uma boa idéia sobre quem ou o que seja o joio. Caçar o joio, entretanto, não parece ser nada simples. E com que armas se caça o joio? Podemos começar por um projeto educacional sério. Um grande colégio em São Paulo colocou uma extensão de sua unidade na favela próxima às suas instalações, de modo a, de alguma maneira, beneficiar aquela comunidade carente, as crianças desta teriam os mesmos professores e matérias que os membros da elite, que freqüentam a grande escola. É prática dessa instituição promover uma maratona de matemática entres os alunos de suas várias unidades, e a extensão na comunidade carente foi incluída. E, para espanto geral, foi um de seus alunos, um jovem da raça negra, quem mais se destacou obtendo o segundo lugar no certame, que reuniu as mentes mais privilegiadas. Quantos gênios estão escondidos nas comunidades carentes? Quantos teriam suas vidas mudadas se, simplesmente, fossem apresentados à aventura do estudo, ao extraordinário mundo dos livros.

Os alemães e os italianos acabaram com os grupos terroristas niilistas (termo que vem da palavra latina Nihil, que significa Nada). Esse novo terrorismo sem propósito político, que campeia nos tempos atuais, teve como precursores dois grupos: o alemão, Baader Meinhof e o italiano Brigada Vermelha. As respectivas polícias conseguiram sem desrespeito à lei, erradicá-los. Por que a nossa polícia não conseguiria erradicar esses grupos para-estatais em nosso território? Essa máquina deve e pode ser destruída. Os italianos conseguiram, também, enfraquecer de forma impressionante o crime organizado, que entre eles já fazia parte do folclore sobre o que significava ser italiano. Por que nosso aparato policial não o conseguiria. É certo que na Itália eles contaram com um judiciário incorruptível, muitos juízes perderam a vida para curar a sociedade italiana desse câncer. Por que o nosso judiciário não o faria? É verdade que a vitória, tanto dos italianos como dos alemães, foi conquistada por uma polícia marcada pela inteligência, pela seriedade e pela incorruptibilidade. Por que nossa polícia não o conseguiria? A repressão inteligente e séria ao crime organizado é forma eficaz de erradicar o joio.

A questão do combate à violência passa pela redução da maioridade legal ou pela repressão eficaz aos maiores que aliciam os menores?

E que dizer de termos um projeto sério de redistribuição de renda? Como convencer adolescentes de que eles, sem oportunidades, devem se contentar em repetir a história de seus pais, que trabalham como poucos trabalhadores das nações modernas, para ver, no final do mês, o seu parco salário ser insuficiente para pagar suas irrisórias contas? Por que não lutamos por um programa sério de recuperação salarial? Por que não enfrentamos a realidade de um país com um dos menores índices demográficos, isto é, com um número pequeno de habitantes por quilômetro quadrado, mas a maior concentração urbana do planeta. Cerca de oitenta e cinco por cento dos habitantes do Brasil moram em cidades. Como se explica isso num país com tanta extensão de terra? Basta lembrar que temos cerca de cento e oitenta milhões de habitantes num território maior que o território da Índia, que tem mais de um bilhão de habitantes.

Por que não temos um programa sério de reforma agrária? E que dizer do enorme número de gente sem teto em nossas cidades, quando há prédios totalmente vazios em nossas cidades; e terrenos ociosos por conta da especulação imobiliária? Por que não temos um programa habitacional que se possa ao menos chamar de sério? Há hoje no país uma febre pelo crescimento econômico. Você sabia que o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo no século passado? De que crescimento estamos falando? Qual o crescimento de que realmente precisamos?

Será que a resposta à possibilidade da barbárie é reduzirmos a maioridade legal, ou termos o crescimento que fomente a Justiça, de modo que nossas crianças possam, de fato, crescer?

Há um joio na sociedade brasileira, porém, é um joio diferente do que Cristo descreveu em sua parábola. O joio de que Jesus Cristo falou só poderá ser colhido, arrancado do campo da vida no juízo final. O joio de que estamos tratando nessa terra varonil pode ser exterminado agora. Contudo, essa erva daninha não pode ser extinta jogando sobre os seus peões o peso de sua existência. Não é caçando jovens que erradicaremos a violência. Temos uma máquina complexa para desmontar, ela se parece com um polvo, seus tentáculos visitam todas as atividades da sociedade; sua cabeça habita nos palácios, e movimenta milhões de reais. Para erradicá-la é preciso destruir suas fontes de abastecimento. Ela se abastece da pobreza, da miséria; da injustiça social; da falta de programas educacionais eficazes e abrangentes; da ineficácia do Estado, assim como de sua fragilidade frente a possibilidade da corrupção; da concentração de renda, e de terras e de tetos, e de possibilidades.

Estamos de luto! E por razão mais do que justa. Como não ficar indignado frente a tal violência? Como não ficar indignado frente a um sofrimento estúpido como o infringido a esta criança inocente? E como não se desesperar frente à capacidade humana de perpetrar o mal? Entretanto, como diz a Bíblia: “A ira do homem não produz a justiça de Deus.” Em nossa ira sofremos a tentação de desejar que os bandidos, que estão na mesma cadeia dos rapazes, os matem. Em nossa ira começamos a falar de punir os nossos jovens com mais rigor, quando deveríamos falar em salvá-los desse monstro que temos deixado crescer por cerca de quinhentos anos. Assim não se faz justiça, apenas se dá lugar à vingança. E com vingança não se constrói nação alguma. A vingança faz o trigo se igualar ao joio.

Que a morte desse inocente se torne o motor de uma tomada de consciência que nos leve a consertar a nossa nação. Que nos leve a repudiar toda a sorte de desperdício, e de corrupção. Que nos leve a não tolerar mais a pobreza; e o analfabetismo; e o crime organizado; e a ineficiência do Estado; e a irresponsabilidade de nossos políticos. Até quando seremos uma nação que quando começa a falar em crescimento, começa a dizer da necessidade de destruir parte de nossas florestas e de prejudicar indígenas e quilombolas? Que quando começa a falar de justiça começa a falar em punir jovens, reconhecendo que já que os condenamos a ser bandidos que os prendamos o mais cedo possível? Que nos levantemos contra a máquina que trucida esses peões e que erradiquemos as fontes de suprimento desse monstro, antes que tenhamos de concluir que o joio somos nós.

* Ariovaldo Ramos é filósofo e teólogo, além de diretor acadêmico da Faculdade Latino-americana de Teologia Integral, missionário da Sepal e presidente da Visão Mundial. É membro da equipe editorial da Edições Vida Nova.

"OLHO POR OLHO E ACABAREMOS TODOS CEGOS"

Welinton Pereira da Silva*

A frase acima não é minha. Foi inspirada em uma faixa exposta no Maracanã com quase os mesmo dizeres.

Está na ordem do dia a discussão sobre a maioridade penal. É incrível ver como um tema toma conta da população: a mídia bota fogo no circo armado incentivando o espírito de vingança e raiva; vendem-se jornais, revistas e pontos no ibope com a apresentação de soluções simplistas; o clamor popular ou a opinião pública como um deus desejoso de sacrifícios exije mudanças já; e a criminalização dos “ menores” surge como a grande salvadora da pátria. O Congresso Nacional, que recentemente se notabilizou por absolver seus pares mensaleiros, e em não votar nada a não ser as medidas provisórias do Executivo, votou três alterações na lei de segurança em apenas 24 horas.

Contardo Galligaris, psicanalista e colunista do jornal Folha de São Paulo, denuncia a hipocrisia de nossa sociedade citando Michel Foucault ao afirmar que “a prisão é uma instituição hipócrita desde sua invenção moderna, ela protege o cidadão, evitando que os lobos circulem pels ruas, pune o criminoso, constragendo seu corpo, mas nossa alma “generosa” dorme melhor com a idéia de que a prisão é um empreendimento reeducativo, no qual a sociedade emenda suas ovelhas desgarradas”. Quem conhece nossas prisões superlotadas e imundas sabe que as mesmas funcionam como verdadeiros depósitos de seres humanos, para não dizer como universidade do crime.

Estamos todos angustiados e revoltados com a morte de João Hélio, que teve sua vida ceifada de maneira tão trágica e violenta com apenas 6 anos de idade. Mas será que os que defendem a redução da maioridade penal realmente acreditam que isto vai resolver nossos problemas de violência e insegurança? Será que a ida de nossos adolescentes para as cadeias mais cedo vai ajudar na sua reeducação ?

Se analisarmos os dados das Secretarias de Segurança Pública de nossos estados, vamos constatar que o índice de crimes cometidos por adolescentes é infinitamente menor dos que os praticados por adultos. Os crimes cometidos por adolescentes é, portanto, uma pequena ponta do iceberg da violência, insegurança e corrupção presentes em nossa sociedade. Se desejamos resolver de fato a questão da criminalidade nas grandes cidades, nossa reflexão e atuação precisa ser bem mais séria e responsável, não a hipocrisia que estamos presenciando, sobretudo dos nossos dirigentes, que vêm a público fazer propostas que eles mesmos sabem que não são viáveis.

Assisti de novo, recentemente, o filme Ônibus 174 que retrata o episódio vivido pelos passageiros desta linha de ônibus no Rio de Janeiro em que Sandro, ex- menino de rua e sobrevivente da Chacina da Candelária, faz vários passageiros/as reféns. É impressionante a sucessão de erros e a falta de equipamentos da Polícia Militar que estava atuando no caso. O desfecho foi o assassinato de Sandro e de uma refém quando o caso estava praticamente resolvido. Certamente aquela jovem estudante não estaria morta se não fosse a ação atabalhoada dos policiais no caso.

Com toda indignação que o caso de João Hélio deve nos provocar assim como solidariedade com a sua família, gostaria muito que houvesse a mesma indignação e revolta contra todas as injustiças e corrupção que têm assolado o nosso país. País que tem jogado e mantido na cadeia pessoas sem a menor chance de recuperação. Precisamos dar um basta na hipocrisia se desajamos resolver os problemas da violência e segurança. É consenso entre os que conhecem minimamente nossas instituições que o problema não está na lei e sim nas instituições públicas que não funcionam e na sensação de impunidade. A mudança na lei pode até nos dar a sensação de ter resolvido a questão mas certamente o problema persistirá.

Uma sociedade onde poucos são muito ricos e muitos são muito pobres e onde a sensação de impunidade se tornou lugar comum, não basta mudar as leis de segurança; nossa mudança precisa ser bem mais profunda.

Espero que estes acontecimentos recentes como a morte de João Hélio e o assassinato da avó por um menino de 12 anos a facadas depois de ter cheirado solvente (prática comum entre meninos que vivem nas ruas), despertem nossa sociedade deste sono profundo da indiferença e da hipocrisia e nos aponte o caminho de uma verdadeira conversão como propõem os Evangelhos, a conversão ao respeito à dignidade da vida.


* Pastor na Igreja Metodista no Belém- SP

Assessor de Relações Cristãs da ONG- Visão Mundial

quarta-feira, 23 de maio de 2007

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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Fórum Jovem de Missão Integral 2007


Faça sua inscrição no site:
www.forumjovemdemissaointegral.org

Missão Integral – a desnecessidade do nome e a necessidade do conceito

Marcus Vinicius Matos*

C.S. Lewis dizia que a humanidade só anda pra frente quando uma geração compreende a geração imediatamente anterior a ela. Desafiados a pensar sobre a Teologia da Missão Integral, somos levados a crer que, graças a Deus, seu conceito influencia, hoje, toda uma geração de jovens comprometidos com o Evangelho de Jesus.

Todavia, isso leva a uma nova crise. Afinal, será que mais alguma coisa precisa ser dita sobre o tema? O que já não foi dito sobre Missão integral? Em um artigo publicado em 1994, Robson Cavalcanti atentava para o fato de que a Teologia da Missão Integral ficava “por fora” das igrejas, atingindo apenas os movimentos “paraeclesiásticos”. Perguntamos: será que isso mudou? Por outro lado, já ouvimos dizer que hoje a missão integral é feita em todo canto, mesmo por quem não sabe o que é a Teologia da Missão Integral. A prova disso seria o fato de que é praticamente impossível ver uma igreja evangélica na qual não exista pelo menos um trabalho de ação social.

Seja como for, de todas as aplicações possíveis da integralidade da missão, um assunto deveras sensível e de significativas diferenças entre as gerações que iniciaram a caminhada da Missão Integral em Lausanne e a geração de hoje, que pega o bastão, é a questão política. Mas não só a questão política eleitoral: nessa, os evangélicos já estão integrados, desde a ditadura. Trata-se da política que se faz também no Poder Judiciário; nas escolas e universidades; nas políticas coorporativas das empresas; e, sobretudo, no dia-a-dia comum do cidadão ordinário. E nisso, perguntamos: qual nossa capacidade de mobilização para lutar por direitos? Para promover a Justiça? Talvez não tenhamos explorado ao máximo o conceito de Missão Integral em sua relação com a política.

Como boa parte dos textos sobre Missão Integral foram escritos no contexto da Guerra Fria, era muito fácil perceber neles os embates ideológicos entre os conceitos clássicos de Esquerda e Direita. Hoje, no entanto, esses embates ainda existem, porém, com novos entornos. Não se trata mais de opor um comunismo despótico a um capitalismo ditatorial; trata-se de opor um “novo socialismo”, ou uma social democracia, a um neoliberalismo e a um governo de empresas multinacionais.

A Globalização parece ter gerado uma crise da qual o Estado-nação não conseguirá sair ileso. Ela não se restringe ao Estado: a crise global atinge também as estruturas culturais, políticas e sociais como um todo. Vivemos, nas palavras de Anthony Giddens, num “mundo em descontrole”, no qual o sistema político comum – com partidos políticos, fronteiras estatais e sentimento nacional – já não faz mais sentido. A grande oposição teórica que surge disso, segundo ele, seria entre um cosmopolitanismo e as diversas formas de fundamentalismo - no caso, cultural. Todavia, é necessário pensar de que forma essa oposição na cultura pode se refletir no contexto teológico.

Até mesmo o conceito tradicional de família foi abalado pela Globalização. Em recente estudo, um professor de sociologia francês alega que, na impossibilidade de definir um conceito de família na Europa contemporânea – devido a um número imenso de crianças que vivem em vários ambientes com pais divorciados, a casamentos entre pessoas do mesmo sexo, e ao surgimento de outras formas de família no estilo “friends” americano – define família pela “roupa suja”, ou seja, família seria aquilo que surge “quando duas pessoas compram uma máquina de lavar, ao invés de duas”. Isso é só pra ilustrar a gravidade do problema, e a necessidade de levar a sério a questão de “discernir os tempos” (I Crônicas 32:12), e ter uma pequena idéia de como o mundo mudou nos últimos 30 anos. É preciso compreender as mudanças para se posicionar diante delas.

No entanto, o que permanece inalterado? Certamente, a pobreza, a miséria e as - cada vez maiores - desigualdades entre os povos continuam presentes. Há quase 40 anos atrás, tratando de Missão Integral, Ronald Sider apontava para a necessidade de que cristãos ricos não se conformassem com os tempos de fome. Num capítulo que trata da questão do envolvimento político, ele aborda a importância de lutar contra a tirania das ditaduras marxistas e das empresas multinacionais, que ocorriam devido à concentração de poder econômico nos dois sistemas. Hoje, o professor Ulrich Beck, da universidade de Munique, depois de questionar a própria produção de estatísticas sobre o tema, conclui que o fluxo de renda dos países pobres para os países ricos aumentou; que o Globalismo Econômico tornou o mundo mais injusto do que era há alguns anos atrás.

Esse fato é um forte indício de que a Missão da Igreja continua a mesma. Apesar de mudanças políticas ocorrerem, a promessa de Jesus se cumpre a cada dia, e os pobres continuam entre nós. Contudo, há algo diferente: nossa responsabilidade aumentou na mesma proporção em que se multiplicaram os pobres.

Nesse início de Século XXI, Esquerda e Direita não são mais sinônimos de partidos políticos ou de ideologias bem definidas, mas sim de posicionamentos diante de questões como Direitos Humanos, Comércio Justo e Ecologia. Nesses dias, quando as relações econômicas globalizadas produzem mais pobreza e desemprego do que políticas públicas de educação; onde o sistema promove morticínios estruturais de classe nos presídios em detrimento de oportunidades de desenvolvimento humano; quando se criminaliza os pobres e se atribui às favelas os crimes do Estado. É nesse mundo que precisamos saber onde afincar a bandeira da Missão Integral.

Porém, mais do que a bandeira, importa resgatar o conceito. Assim, é útil o exemplo de Abraham Kuyper que, antes da criação disso que hoje entendemos como Teologia da Missão Integral, combatia um Estado que “causava condições sociais tão anormais que boa parte da população mal conseguia sobreviver”, e defendia uma política profundamente comprometida com a proteção aos trabalhadores e aos pobres.

Para os próximos anos, nosso principal desafio é esse: promover, de modo integral, a transformação da nossa política, da economia e da sociedade a partir dos conceitos Bíblicos. O que temos que fazer? Temos que recomeçar, cultivar a semente e reviver o espírito de Lausanne na nossa cidade. E como podemos fazer? Dentro de um mundo onde há ONGs e Movimentos Sociais que representam mais indivíduos que partidos políticos, e enquanto houver espaço para a democracia, é possível que o engajamento da Igreja de Jesus Cristo na Defesa de Direitos, movida pelo Espírito Santo, produza aquilo que tanto buscamos: Justiça.

* O autor é estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde desenvolve pesquisa em Teoria do Estado. É também coordenador de Campanha da Rede FALE (www.fale.org. br).

terça-feira, 15 de maio de 2007

Eventos da Campanha na UFRRJ

O FALE e o grupo da ABU da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro promovem atividades da Campanha por Saneamento Ambiental no Brasil nos próximos meses. Nos dias 3 a 5 de julho serão realizadas palestras e debates sobre o tema, integradas à programação da Semana do Médico Veterinário (SEMEV). Também está prevista a realização de evento próximo ao dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente.

Confira a programação para a SEMEV:

Tema geral: Saneamento Ambiental no Brasil

Eixos temáticos:

      • Direito a Saneamento Ambiental
      • Favela e Urbanização no Estado do Rio de Janeiro
      • Políticas Públicas em Saneamento Ambiental no Brasil

Palestrantes:

      • Prof. Luiz Azar Miguez – Sanitarista e Pró-reitor da UNIRIO
      • Profa. Miliane Souza – Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
      • José Nerson de Oliveira – Vice-presidente da Federação das Associações de Favela do Estado do Rio Janeiro (FAFERJ)
      • Flávio Conrado – Antropólogo e Coordenador de Formação da Rede FALE
      • Mauro Santos – Coordenador do Programa Rio de Janeiro da FASE
      • Stel Soares - Diretor do Sindicado dos Engenheiros do Rio de Janeiro

A confirmar:

    • Sérgio Gonçalves - Secretário Nacional Saneamento Ambiental (Ministério das Cidades)

Relatos dos Articuladores Regionais

1) Participação no Fórum Social Potiguar – Natal/RN – por Leandro Silva

“Encerramos mais um passo na caminhada "Resistência dos povos às estratégias imperialistas", programação do Fórum que teve a participação do FALE, ABUB e também de algumas pessoas do MEP.

As oficinas "Fale por Saneamento Ambiental no Brasil: Fé Cristâ, Direitos humanos e Meio Ambiente" e "Violência, justiça e políticas públicas: Mobilização Social e Defesa do Estatuto do Desarmamento" foram muito relevantes. A oficina sobre o FALE e Saneamento Ambiental foi uma das mais concorridas da manhã, atraindo militantes do MST, PDAs da Visão Mundial (da cidade de Janduis e de outras do meio rural), Associações Comunitárias rurais, pastores e Líderes evangélicos, seminaristas, sindicalistas, membro de comissão da Agenda 21, estudantes universitários, educadores. A proposta de ação do fale foi apresentada, tivemos uma abordagem sobre direitos humanos e uma exposição sobre o tema da campanha. Apresentamos o projeto Jubileu da Terra. Todos saíram de lá com o desejo de continuar a interagir e com a consciência de que é preciso trabalhar em rede para alcançar nossos objetivos e provocar um impacto sério na promoção da justiça. Grupos locais do FALE em áreas rurais e discussões sobre a campanha e defesa de direitos nestes movimentos sociais são os primeiros passos que, esperamos, sejam concretizados a partir da oficina.

A oficina sobre Desarmamento, políticas públicas, violência e promoção da justiça teve um público menor, mas ainda formado por gente dos PDAs da Visão Mundial (do PDA Natal e do PDA Mossoró, sendo eles educadores, facilitadores e uma técnica de desenvolvimento comunitário, membro da Assembléia de Deus), estudante universitário, líderes comunitários, representantes de ONGs. A oficina foi ministrada pelo Coordenador de Direitos Humanos do Governo do RN, Marcos Dionísio e por Leandro Silva, da Rede FALE, Comitê Potiguar pelo Desarmamento e Rede Desarma Brasil, ambos articuladores da campanha do desarmamento no RN. A oficina foi muito rica e marcada pelos testemunhos pessoais de gente que tem se dedicado a atuação comunitária em comunidades com índice elevado de violência. A lógica da violência e sua estrutura em nível local, nacional e global, construção de políticas públicas, a real situação das comunidades e os indicadores e estatísticas de Natal, o estatuto do desarmamento, diagnóstico e medidas da CPI do trafico de armas foram alguns dos enfoques de uma conversa franca sem academicismo, mas de forma muito prática e instigante. Ao final da oficina, as pessoas resumiram sua participação através de palavras que transmitiram o enorme desafio e o impacto provocado pelas informações recebidas. Multiplicar em suas organizações, igrejas e comunidades, conhecendo, divulgando e trabalhando na defesa do estatuto do desarmamento e na edificação de outras políticas públicas por meio do controle e da pressão social foi o compromisso que todos assumiram.

Enfim, a participação no Fórum está se mostrando uma experiência muito relevante de mobilização, articulação de ações, mas também de crescimento e aprendizado. Nossa expectativa é de continuar participando do processo continuo de construção do FSP, por meio de sua comissão organizadora, com a proposição de atividades maiores e mais bem-estruturadas para marcar as próximas edições do evento.

Obrigado a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que estas ações acontecessem. Amigos e irmãos da Visão Mundial, Instituto Sou da Paz, MEP e nossos companheiros falantes foram imprescindíveis no incentivo e no envio de materiais e informações que foram cruciais para a realização das programações.

Amanhã participo da mesa sobre "um projeto popular para o Brasil" na Assembléia Popular.”

2) Articulação na Região Norte

Na Região Norte, mantivemos contato com a ABU Marabá. Lá foi eleita uma diretoria pro FALE apesar do problema dos envios dos cartões da nova campanha, estamos articulando uma atividade com a nova campanha. Convidamos Carlos Eduardo para ser o Articulador Regional do Fale para o Norte Brasileiro. Já na cidade de Belém, segue abaixo relato do Victor (ABU local):

“... no Fale, por enquanto, já falei com o pastor lá da Igreja, só falta marcarmos uma data para fazermos todos juntos a leitura dos cartões e todos assinarem para eu ir aos correios enviar para o Distrito Federal, de preferência antes de Junho, quando é enviada a Lei de Diretrizes Orçamentária ao Congresso Nacional.

Depois pensamos em fazer um documento ou começar por nós mesmo coleta seletiva lá na Igreja no mesmo dia da apresentação da campanha de Saneamento Básico do Fale.”

3) Articulação no Nordeste

Sofremos muito com o não recebimento dos cartões. Atrapalhou uma serie de atividades que já havíamos feito não apenas para o Nordeste, mas para boa parte do Brasil. Mesmo depois do baque inicial causado por essa essa frustação, mantemos contato com igrejas e organizações cristãs. Segue abaixo algumas informações:

  • A ABU/FALE Sobral está trabalhando junto a FAMED(Faculdade de Medicina) um evento com a campanha de Saneamento Ambiental. Nossa idéia é reunir acadêmicos dos cursos na área de saúde, saneamento ambiental, igrejas em geral para travar uma discussão sobre tema saneamento ambiental. O grupo também agendando atividades em igrejas. Possivelmente no mês de maio faça uma programação com igrejas, fazendo treinamentos, momentos de oração e apresentações musicais em atividades do FALE/ABU.
  • Em Fortaleza, Rodolfo está entrando em contato com igrejas e seminários da cidade.
  • Quanto a ABU Nordeste, participamos do Conselho Regional na semana Santa, na cidade do Recife. Lá foi possível distribuir os cartões entre todos os grupos e contatos da ABU no Nordeste. Esses grupos(Natal, Fortaleza, Sobral, Feira de Santana, Salvador, Aracaju, Recife, Areia, Maceió, João Pessoa) se comprometeram a promover as alguma atividade.
  • Nilton Melo, tesoureiro do Conselho Regional da ABU Nordeste e Presidente da Juventude Batista do Sergipe(JUBASE), nos convidou para participar do Congresso com um espaço privilegiado no evento, que ocorrerá em maio desse ano.
  • Conversamos com Rodolfo e Pedro Henrique sobre meios de movimentar a Coordenação de oração, nossas dificuldades e desafios no FALE e vida pessoal. Discutimos sobre novas possibilidades de ações da Coordenação de oração em conjunto com o Assessor de Diaconia da ABUB e articuladores Regionais. Pedro Henrique nos levou na igreja onde pastoreia (I Igreja Batista de Olinda) e conversamos sobre atividade nas do FALE em sua igreja.
  • O Pr. Bené, da Igreja Batista em Bultrins/PE, responsável pela programação da V jornada Teológica da FTL NE um momento com o FALE no evento, que ocorrerá nos dias 28 a de abril.
  • Henrique (FALE/Feira de Santana) está articulando com o grupo local um Fórum evangélico sobre Políticas Públicas.

Mais notícias:

Estabelecemos contatos em locais onde não temos articulação e freqüentemente mandando informações para várias listas de discussão, MEP, VISÃO MUNDIAL, IGREJAS.

Caio César Sousa Marçal – Coordenação de Articulação