domingo, 30 de junho de 2013

Dilma Rousseff recebe movimentos juvenis

Rede FALE participa de reunião da presidência com lideranças de movimentos juvenis 


Representantes presentes na reunião no Palácio do
Planalto/ Roberto Stuckert Filho/PR
Na manhã do dia 28 de junho de 2013 a presidenta da Republica, Dilma Rousseff, recebeu no palácio do Planalto 25 lideranças juvenis dos mais diversos setores (juventudes do campo, trabalhadores urbanos, redes, comunicadores, mulheres, estudantes, religiosos e outros). Diante dos diversos protestos ocorridos nas últimas semanas, o governo intencionou realizar algumas escutas, para que sua compreensão dos acontecimentos pudesse estar não só mais próxima da realidade, mas também das agendas que vem das ruas.
A presidenta se colocou numa postura de diálogo e entende esse momento como uma oportunidade de ampliar direitos, percebendo que uma atitude conservadora não nos ajuda a avançar. Dilma defendeu, na questão da Reforma Política, que fosse realizado o plebiscito, e que as questões principais reclamadas pela população nas ruas fossem a base para esta discussão.
 As demandas apresentadas pelos movimentos ali presentes, abarcaram a amplitude de vozes vinda das ruas, defendendo a luta do transporte público, que deve ser encarado como direito e não como serviço, bem como maiores investimentos (financeiro e político) em educação, saúde, trabalho decente, reforma agrária, direitos humanos, reforma política e tributária. Alessandro Melchior, presidente do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), ressaltou a necessidade de maiores investimentos e institucionalização das políticas de juventude no país, bem como canais permanentes de diálogo direto da presidência com as diversas juventudes, para que estes não ocorram apenas em momentos de crise.
Ainda foi anunciado pelo CONJUVE a elaboração de um relatório dos abusos cometidos pelas forças policiais na repressão as manifestações em todo o Brasil, que será apresentado aos estados da federação bem como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Morgana Boostel, secretária executiva da Rede FALE aponta que “percebemos avanços no processo de diálogo, mas o calor das ruas precisa continuar e apontar novos caminhos. Precisamos continuar exercendo nossa voz profética diante das autoridades, para que alcancemos avanços na garantia e implementação de direitos, em especial pelos que mais sofrem.”
Morgana Boostel explicando a presidenta Dilma Rousseff
o conteúdo das cartas apresentadas/Roberto Stuckert Filho/PR
Nessa mesma oportunidade a Rede FALE entregou à presidenta Dilma Rousseff uma carta subscrita por mais de 100 lideranças religiosas que são contrárias a aprovação da PL 7663/2010 (carta disponível aqui). Este projeto versa sobre a política de drogas, propondo a institucionalização da internação compulsória, criminalização dos usuários entre outros pontos. Entregou também uma carta pastoral sobre a ocupação do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro (veja o documento aqui), realizada de forma arbitrária pela força policial, que conduziu a morte de 13 pessoas na operação.


NOTA DE ESCLARECIMENTO:

A Rede FALE esclarece que, ao contrário do que foi publicado pelo Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, em matéria na página 4, com chamada na capa, da edição de 29 de junho de 2013, não temos “afinidade" com o governo de Dilma Rousseff. Nosso diálogo com o poder público, em todas as esferas, inclusive na federal, sempre se estabelece a partir de agendas, e com o propósito de ser voz profética na sociedade. Contrariando a matéria do jornal, afirmamos que sim, estivemos presentes nas manifestações que ocorreram por todo Brasil, ainda que de maneira não previamente planejada. Em nosso site, inclusive, há uma série de relatos e reflexões de integrantes da Rede a respeito dos ocorridos. A partir destas experiências, ainda, a Rede publicou cartas abertas aos governos e autoridades em oposição a maneira como estes se portaram diante das mobilizações. Esclarecemos também que "orando pela justiça" é, na verdade, um evento que a rede promove em igrejas por todo o país com o intuito de chamar a atenção das comunidades de fé para as questões de defesa de direitos que estão em pauta no momento. Nossa proposta é estimular a oração e também a ação. E o lema da Rede Fale, desde a sua fundação é 'Levante sua voz contra a injustiça", baseado no texto de Provérbios 31.8-9.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

REDE FALE PROMOVE O 2° ORANDO PELA JUSTIÇA





A oração é uma dinâmica essencial para a caminhada cristã, e desejosa para fortalecer esse aspecto da fé bíblica, A Rede FALE promove no dia 29 de Junho o 2° Orando Pela Justiça.

O “Orando Pela Justiça“ é um evento que que visa mobilizar a igreja através da oração para a realidade dos mais pobres e incentivar os cristãos para que sejam estimulados a ter suas ações baseadas na transformação social alimentadas pela devoção a Deus. O intuito é fazer com que tenham ter um momento de oração sozinhas ou em grupo. Em várias cidades pelo país, grupos e parceiros da Rede FALE estão promovendo momentos de intercessão comunitária.

Para facilitar essa atividade, a Coordenação de Oração e Liturgia da Rede FALE criou um Boletim de Oração com diversos pedidos de grupos FALE e de intercessão relacionada ao problema da corrupção. Há também uma devocional que ajuda na reflexão bíblica sobre o assunto. Para baixar o arquivo do Boletim de Oração da Rede FALE, clique aqui.

Caio Marçal, secretário de Mobilização da Rede FALE,  afirma que  “pessoas que oram por justiça, praticam uma espiritualidade encarnada e engajada no processo de mudanças das estruturas corrompidas pela corrupção e injustiça“. Marçal afirma também que “Acreditamos que é fundamental marchar de joelhos em direção ao Reino de Deus, antes de tudo um ato de obediência e amor por nossa geração“.

Judson Malta, articulador da Rede FALE em Sergipe, crê que o que move a orar pela justiça “é o meu temor a Deus, pois sabe que Ele é a plena manifestação  da justiça e  orar pela justiça é também orar pela plena manifestação do Reino de Deus“.

Para o falante Luiz Lacerda, que participou recentemente nas ruas de sua cidade (Uberaba) de manifestações pela melhoria do transporte público, o “Orando pela Justiça“ é um momento muito relevante. “Já fomos para as ruas, agora está na hora de nos manifestar com nossos joelhos“, afirma Lacerda.

Para mais informações, escreva para mobilizacao@fale.org.br

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Carta Pública sobre manifestação em BH: Rede FALE e Aliança Bíblica de Profissionais de BH



Nós, cristãos evangélicos do grupo da Rede Fale e da Aliança Bíblica  de Profissionais  de Belo Horizonte, estamos muito atentos ao atual momento que tem mobilizado milhares de cidadãos em nossa cidade. Há uma evidente descontentamento no seio de parte da sociedade civil brasileira ante a problemas como a falta de  mobilidade urbana, custo do transporte público ou dos males da corrupção em diversos níveis da política brasileira, por exemplo.

Não podemos deixar de registrar que bandeiras como essas são extremamente justas e necessárias. Nosso país ainda não conseguiu superar problemas estruturais ou vícios no âmbito dos poderes públicos. Celebramos profundamente ver jovens preocupados com os problemas da coletividade. Como cristãos,  unimos nossas vozes em favor da Justiça, valor essencial do Evangelho de Jesus. Porém é preciso lembrar que mais do que ir as ruas, é primordial qualificar com maior profundidade o debate sendo propositivo. Embora seja válido dizer que se é contra a corrupção, por exemplo, é preciso se apropriar de discussões como reforma política e fortalecimento de mecanismos de transparência pública. Esperamos que esse novo momento inspire a todos a ter maior envolvimento  e acúmulo sobre as pautas da cidade a posteriori. Tais pautas inclusive já mobilizam movimentos e organizações sociais em Belo Horizonte.

É com pesar que vemos atos de violência em alguns manifestos. Pedimos encarecidamente que a polícia e manifestantes tenham zelo quanto a construção de uma cultura de paz. Não cabe à PM reprimir atos públicos com força desmedida e nem a alguns manifestantes agir de forma semelhante. Devemos compreender que a construção da paz não é tarefa exclusiva das autoridades públicas, mas uma via de mão dupla que deve comprometer a todos nós. O papel dos órgãos de segurança pública é de proteger e de garantir o direito de livre manifestação que acontece de modo pacífico. É notório verificar que, quando não houve uma postura belicosa em manifestações, não houve sequer um distúrbio -- a exemplo do último sábado, dia 15/6. É a autoridade pública a primeira que deveria dar o exemplo e agir modo condizente com sua função de trazer bem estar social.

Lamentamos o fato de que desde o início o Poder Judiciário de Minas Gerais tenha determinado a proibição das manifestações, ferindo assim as garantias da Constituição Federal. Tal decisão é em si um ato de violência.

Não obstante, salientamos que, embora não se possa classificar a grande maioria das pessoas de "vândalos", alguns passaram da medida ao agir de forma violenta.  É fraudulenta a manipulação de alguns grupos da mídia local que tentam criminalizar a todos. Essa atitude impensada, que não reflete a postura da maioria, não pode ser aceita. Quem agride se coloca em igual condição de quem o agrediu. Não se pode aceitar as lógicas da violência, pois na medida em que a aceitamos, estamos validando-a. Ademais, ao agir assim, põe-se em risco a vida de quem se manifesta de modo pacífico, que é a esmagadora maioria. Conclamamos a todos que exerçam seus direitos de livre expressão e que, ao fazê-lo, usem o bom senso e cultivem o cuidado com a a integridade física de todos, assim como desejamos que o tratamento do Estado seja respeitoso e garanta o direito legítimo de protesto. Unimo-nos com outros coletivos e movimentos sociais no esforço na promoção da paz e da não violência.

Como seguidores de Jesus,  proclamamos que o pacifismo é o único caminho viável para um mundo mais justo e no reconhecimento que somos irmãs e irmãos.

Nossa oração é que todos, responsáveis pela paz na cidade, procedamos com cordialidade e respeito pela sacralidade da dignidade humana  e que a "justiça corra como rio" Amós 5:24.

Em Cristo,
O Príncipe da Paz

terça-feira, 25 de junho de 2013

Carta Pastoral da REDE FALE sobre o ocorrido na Maré


Fale – Levante sua voz contra a violência do Estado no Complexo da Maré e em tantas outras periferias do Brasil!

Na última segunda-feira dia 24 de junho, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, com seu Batalhão de Operações Especiais (o famoso Bope), tomou a Favela Nova Holanda, no complexo da Maré, em retaliação à morte de um policial militar em confronto naquele dia. A ação deixou nove mortos e está sendo acusada de falta de planejamento, de ser motivada por vingança e de utilizar força desmedida. Há testemunhos de humilhação e intimidação de moradores e também de execuções sumárias. Ainda hoje, a favela permaneceu tomada pela PM, em um verdadeiro exercício de estado de sítio sob suas/seus moradoras/es, ameaçando seu direito à justiça, à liberdade e à dignidade.

Na Bíblia, o livro de Isaías é abundante sobre as reivindicações por justiça: "O fruto da justiça será paz; o resultado da justiça será tranquilidade e confiança para sempre" (Isaías 32:17). Dentre os efeitos do alcance da justiça, estão a paz, a tranquilidade, a confiança e o direito à vida: "Não mais haverá na cidade criança que viva poucos dias, nem idoso que não complete seus anos de idade." (Isaías 65:20a). 

Aplicando os princípios bíblicos à realidade fluminense e brasileira, podemos concluir que se as injustiças são causadoras da insegurança vivida pelo povo, então, toda ação (seja ela do Estado ou da sociedade civil organizada) que pretenda agir sobre a “segurança” da população sem mexer nas estruturas sociais e raciais injustas é uma medida equivocada. 
O profeta Isaías nos adverte ainda: “Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo” (Isaías 10:1-2).

Ainda em Isaías, temos também um apontamento das causas das injustiças e desigualdades sociorraciais, em forma de denúncia à concentração de terras por parte de determinado grupo: "Ai de vocês que adquirem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades, até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra!" (Isaías 5:8).

O direito à moradia e o direito à vida têm sido violentados diariamente na cidade do Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil. O Estado brasileiro é responsável por garantir direitos. Cada vez que o poder público autoriza uma invasão policial desse tipo põe em risco a vida de milhares de pessoas moradoras das favelas. Desta forma, o Estado autoriza assim a negação de direitos e por isso deve também ser responsabilizado. 

O que vimos acontecer no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, neste começo de semana é a repetição e continuação de uma série de violações de direitos a que as populações pobres da cidade passam todos os dias. Tais direitos são zelados e reivindicados pela própria Bíblia, que pede o compromisso e a manifestação pela defesa dos mesmos daqueles que a tomam como regra de fé e prática!

Se você é cristã(o) e cidadã(o), não deixe de manter-se informado, de orar e de agir para que todas as pessoas, sobretudo  as/os pobres, as/os pretas/os e moradoras/res das favelas (alvos preferenciais da violência estatal), tenham vida e vida em abundância, a começar pela garantia dos direitos à moradia , à vida, a ir e vir e a manifestar-se publicamente.

Rio de Janeiro, 25 de junho de 2013
Rede Fale

domingo, 16 de junho de 2013

“Meu partido é um coração partido“ - Aprendendo a ouvir os clamores das ruas


 Reflexões feitas a partir das manifestações em BH - Por Caio Marçal

E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
Ezequiel 36:26


Participamos de uma manifestação em Belo Horizonte,  onde os mesmos sentimentos de transformação que levaram milhares de outras pessoas em boa parte do país também contagiou  muitos em “terras inconfidentes“. Como “bons falantes“ que somos, estávamos ansiosos para entender o que estaria por trás dessa surpreendente onda nova.

Embora o Tribunal de Justiça de Minas Gerais tenha acatado o pedido do Governo do Estado que determinou que não houvesse manifestações nessa época de Copa das Confederações, uma decisão no mínimo absurda numa sociedade democrática, um coletivo de organizações, inicialmente ligadas ao tema do passe livre e da mobilidade urbana, conseguiram mobilizar um grande número de cidadãos. É Preciso dizer que Belo Horizonte é a que tem a área viária mais comprometida por engarrafamentos e lentidão no país e tem um transporte público deficiente.
Num tom extremamente pacífico e em alguns momentos festivos, foi possível perceber o quão é revelador quando participamos desses atos. Sinalizam que existem outros retratos sobre esse ativismo que colocam em cheque os conceitos e preconceitos que o senso comum, fortemente manipulável pelos donos do Quarto Poder tenta impingir.
Não podemos deixar batido que essa articulação teve componente de mobilização inicialmente nas redes sociais. Divulgada na Web como “reunião na Savassi“, muitas pessoas se aglomeraram para esse ato público. Ao chegar lá, logo deparamos com um cartaz que dizia  “Saímos do Facebook“.  Quem sabe essa afirmação seja uma alfinetada em alguns críticos que desqualificam demonstrações de solidariedade em redes sociais. Quem sabe...
Algo longo da manifestação, algo nos chamou a atenção: uma diversidade considerável de bandeiras que mostram o quanto nosso país precisa melhorar em relação a promoção de direitos essenciais para seu povo e o como há uma insatisfação crescente. Os manifestantes, conscientes do caráter aglutinador e catalisador dessa nova espécie de  engajamento, não permitiam que alguns partidos empunhassem suas bandeiras. Quem teve a “coragem“ de fazer isso, recebeu sonoras vaias. “Aqui não tem partido“, refrão que ecoou amplamente e reverberou pelas ruas centrais da capital mineira.
“Meu partido é um coração partido“
Não deixou de ser tocante ver uma jovem com um cartaz que reproduzia a letra de uma música: “meu partido é um coração partido“. Ao ler essa mensagem, não pudemos parar de pensar em outra coisa senão o quão necessário é ter pessoas que exercem essa militância do coração,  que é capaz de se condoer ante a dor e faz dela um ato em defesa da vida. Que não vivem ensimesmados em seu individualismo ególatra ou fechados em guetos ideologizados, mas conseguem reconhecer a demanda dos outros e por eles ir para as ruas defender o coletivo!
Sim, sonhamos com a reprodução de uma nova geração que não se importa apenas com suas próprias bandeiras, mas exerce essa santa cidadania cordial, que contempla o próximo em suas dores. Seja nosso partido não partidarizado, mas que nosso partido seja o todo, o bem de toda coletividade.
Pensando melhor: não deveriam ser os cristãos ser partícipes dessa nova corrente em favor de toda criação? Enfim... Imagens, cenas e questionamentos que renovam nossos sonhos e tiram nosso sono.

Caio Marçal é missionário e Secretário de Mobilização da Rede FALE. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Por Outras Vozes, Outras Fontes e Outros Ângulos: Um Relato do Ato

Relato de Rafael Lira(Articulador do FALE SP) e demais educomunicadores sobre as manifestações em contra o aumento de preço do transporte público em São Paulo.


Manifestantes cercados e atacados pela Força Policial: democracia, ”só que não ”:




São quase duas da manhã e estamos aqui, um grupo de nove jovens amigos/as, reunidos/as, agitados/as e não conseguiremos dormir antes de denunciar o que vivemos hoje pelas ruas do centro de São Paulo.
Era por volta das 18h quando descemos a Rua Augusta em direção ao Theatro Municipal para a concentração do Quarto Ato contra o aumento das tarifas.
As notícias que circularam durante o dia prenunciavam que o a manifestação seria tensa. Mas, apesar do medo, estávamos leves e confiantes na democracia. Fomos nos incorporando a vários outros companheiros que seguiam para o ato. O que portavam? Flores, vinagre e câmeras fotográficas.
Ao chegar ao Theatro, o clima já estava tenso. A forte presença policial contrastava com o desejo de paz da maioria dos manifestantes, evidenciados em falas, gritos pela não violência e em atitudes absolutamente pacíficas.
Seguimos com a multidão, reivindicando a revogação do aumento das tarifas e, mais do que isso, o direito ao transporte público, à cidade e, óbvio, a nos manifestarmos.
Nossa intenção era parar a Paulista, chamar a atenção dos governantes e exigir o diálogo, mas quem parou a Paulista foi a polícia. Poucos quilômetros de caminhada e o choque cercou os manifestantes e realizou a primeira dispersão. A partir daí éramos vários atos pela região central da cidade. Seguimos com um grupo que subiu a Rua Augusta para tentar chegar a Paulista. Também fomos cercados, recuamos pela Bela Cintra e também ficamos sem saída.
Fomos encurralados até chegar na Consolação. Vimos um cenário de guerra, vários dos grupos que haviam se dispersado voltaram a se encontrar, mas estávamos cercados pelo choque e pela cavalaria de todos os lados. Todos. Não havia para onde escapar e se proteger. Muitas bombas e balas de borracha atingiam os manifestantes. O desespero começou a tomar conta. Faltava o ar, os olhos ardiam, medo de perder os companheiros e, principalmente, o sentimento de indignação, humilhação e revolta. A solidariedade prevaleceu. Quem tinha vinagre, oferecia, indicavam caminhos livres, davam as mãos.
Conseguimos correr por uma das ruas. Recuamos. Tinha duas adolescentes conosco, estávamos preocupados, cansados. Precisávamos encontrar um local seguro. Seguimos pelas ruas paralelas à Consolação na região de Higienópolis. Estava deserta, nos sentimos a salvo. Encontramos mais um pequeno grupo de amigos numa padaria. Um alivio. Tomávamos uma água.
De repente, onde não havia mais aglomeração de manifestantes, mais fumaça, mais barulho, mais bomba. Começamos a correr. Nos separamos dos outros. Nesse momento, éramos apenas nove amigos. Resolvemos caminhar calmamente, não haveria motivo para sermos atacados. Não fazíamos nada de mais. Estávamos enganados. Uma viatura parou diante de nós. Policiais apontaram a arma e ordenaram: “corram que vamos atirar”. Corremos e eles cumpriram a promessa. Atingiram uma amiga. Nos desesperamos. As ruas estavam desertas, não havia onde entrar. Estávamos sozinhos. Humilhados e indignados pela arbitrariedade, pela violência, pela covardia, gritamos por socorro.

Duas moças passavam de carro, se escandalizaram com a covardia que presenciaram. Pararam o carro e disseram para entrarmos. Nove pessoas num Palio. A solidariedade e o senso de justiça nos salvou. Elas moravam por ali e nos levaram para o apartamento, para ficarmos em segurança até que pudéssemos sair.
Mais amizade, mais solidariedade. Fizemos um pedido de ajuda pelas redes sociais. Precisávamos de dois carros para nos tirar dali em segurança. Poucos minutos e dezenas de ajuda foram oferecidas. Fizemos e recebemos diversos telefonemas para saber dos outros amigos/as espalhados/as, feridos/as, presos/as. Havia uma rede de pessoas trocando informação, solidariedade, força. Fomos acolhidos num local seguro, onde passaremos a noite.
Como nos sentimos agora? Humilhados e indignados, sim. Mas não derrotados. O que vimos hoje nos fez ver o tamanho do desafio que temos para consolidar a democracia e também nos fez sentir que somos fortes, somos muitos e somos bons. Partilhamos de momentos emocionantes de luta, coragem, lucidez. Fomos acolhidos e recebemos imensa solidariedade que alimentaram ainda mais o nosso sentimento de força. Essa rede pode crescer, temos certeza. Não vamos recuar. Enquanto a passagem não baixar, São Paulo vai parar.

Por:


Ingrid Evangelista, Juliana Giron, Paolla Menchetti, Rafael Lira, Vanessa Araújo Correia, Vânia Araújo Correia, Victória Satiro, Vitor Hugo 


Confira o vídeo produzido pelo grupo de jovens educomunicadores, tentativa de cobertura jovem do ato:



20 Centavos e o preço das Manifestações

*por Isaac Palma

Foto: Rafael Lira
Invariavelmente, não foram os 20 centavos que nos levaram as ruas de São Paulo, apesar de existirem razões cabíveis para protestar por esses 20 centavos. Definitivamente não são apenas os valores das passagens que tem levado pessoas as ruas, não só em São Paulo, mas em várias cidades do Brasil. Existe algo simbólico em todo levante popular, não significa que o que o Estado fez nunca foi feito, mas que chegou ao nível de ser intolerável, não saímos as ruas por esse último aumento, mas por todos os que tiveram até agora e em um tipo de esperança de que eles não sejam mais uma realidade entre nós, graças a uma indignação constante.

Existe uma distância astronômica, para aqueles que foram as ruas por esses dias pedir pela redução do valor da passagem, entre o valor anterior e esse que o Estado nos presenteou. Se enganam aqueles que acham que esses protestos são sobre transporte publico ou mobilidade urbana, eles passam inevitavelmente por isso, mas não são sobre isso. Existe um tanto de revolta não só com o Estado, mas também com toda a Sociedade, e isso obviamente nos inclui, não estamos ali somente pelo que está posto agora, estamos também por todas as nossas omissões anteriores. Estamos ali porque não aguentamos mais ficar parados dizendo que ninguém faz nada, ou que os políticos são corruptos e nada pode mudar isto.

Entre a Avenida Paulista e a Consolação, nos poucos centímetros que transformam uma em outra, pisei em 2013 como se pisasse em meados das décadas de 80, época em que os sonhos não descansavam, e que sonhar não era só possível como era necessário. Era como se num lapso de tempo pudesse viver aqueles anos que não vivi como ser humano mas inevitavelmente vivi como Brasileiro. Abandonar nossas distopias cotidianas talvez ainda nos leve tempo, trocar por velhas e (por que não?) novas utopias nos custe esforços que não estamos ainda dispostos. Ver aqueles sonhos de uma nação mais justa serem transformados em ensaios tecnocratas de mentiras mal contadas, talvez tenha sido um baque por demais doloroso em nós, e por isso esse silencio sepulcral, talvez por isso nossas omissões anteriores.

Recordo-me que a mesma cena se repete diversas vezes na história, como o estopim de uma coisa aparentemente insignificante pode se transformar num levante que muda os rumos de países, cidades ou bairros. Relembro a história do Cristo indignado, com os exploradores do povo, dos profetas que não quiseram nem puderam se calar com a hipocrisia daqueles que exploravam os oprimidos. Me identifico com esses sonhadores que vislumbraram outro mundo sobre os escombros daquele que estava a sua frente.

Isaac (esquerda) e Rafael  - Falantes marcando presença nas
manifestações. (Foto: Rafael Lira)
Por fim não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que mudaremos o Brasil de uma hora pra outra, ou que todos temos o mesmo sentimento, que todos os que foram as ruas acreditam nas mesmas coisas, esses movimentos aglutinam forças opostas dentro de si, e isso deve ser ressaltado, mas é justamente na contradição que emana a beleza dessa luta, somos sim contraditórios e múltiplos: plurais. Existem brigas e divisões, mas em comum decidimos Sonhar.


*Isaac Palma é articulador da Rede FALE SP e escreveu esse texto reflexivo a partir da experiencia na marcha acontecida no dia 11/06/2013, que uniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de São Paulo.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Boletim de Oração da Rede FALE - maio e junho de 2013

Prezados irmãos e irmãs, segue o boletim de Oração da Rede FALE em pdf. Clique aqui para abrir
Abaixo segue no formato JPG



Fale Marabá promove encontro sobre Igreja e Comunidade

O grupo da Rede FALE Marabá, junto com as Ongs Elites e Ideias promovem o Encontro Igreja e Comunidade: Os desafios de uma cidade centenária. O acontecimento será no dias 20, 21 e 22 de junho. 
Para o articulador do FALE Carlos Eduardo, o evento será Será um momento de aprender como o Reino de Deus causa a transformação integral da comunidade. Para mais informações, veja o cartaz abaixo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

ORAÇÃO E JUSTIÇA - Carta da Coordenação de Oração e Liturgia da Rede FALE





Orai sem cessar.  (I Ts 5:17)

Prezados irmãos e irmãs da Rede Fale, saudações da parte d’Aquele que nos chama à uma nova vida e à construção de um mundo novo!

Quando o FALE se articulou como uma rede, tivemos como força motriz a dimensão da espiritualidade e da devoção. Passados alguns anos, vemos o quão primordiais têm sido a mística e a oração, no exercício da nossa construção, e como essa dimensão tem deve se tornar num eixo fundamental para o que realmente somos.
A Coordenação de Oração e Liturgia da Rede Fale, atenta a essa dinâmica essencial para a "caminhada falante", deseja neste ano de 2013, reafirmar e fortalecer processos que ajudem nossos grupos a desenvolver apropriadamente essa prática e nesse sentido, apresenta uma proposta de planejamento que colabora com a vivência prática de uma espiritualidade libertadora. 
Em primeiro lugar, retomamos a confecção e distribuição do nosso Boletim de Oração da Rede FALE. Essa ferramenta, profundamente necessária para a integração e comunhão de nossos grupos, visa fomentar momentos de devoção comunitária e reflexão bíblica, ao mesmo tempo em que compartilha pedidos de oração e intercessão relacionados às nossas campanhas (em nível local e nacional), e nossos grupos locais.
Em segundo lugar, entendemos que precisamos empoderar iniciativas criativas, como o “Orando Pela Justiça”, que é um evento que acontece numa data preestabelecida, agora duas vezes ao ano, onde é sugerido aos grupos locais, parceiros e membros da Rede Fale que promovam um culto ou momento(s) de oração específico(s), utilizando como guia o Boletim de Oração da Rede.  Para baixá-lo, clique aqui!
Propomos para a data de 29 de Junho o nosso primeiro “Orando pela Justiça” de 2013.
Para melhor favorecer estas iniciativas em âmbito local, e também facilitar e incentivar a formação do caráter da Espiritualidade Cristã em nosso meio, nos utilizaremos de diversas mídias para nos aproximarmos de cada um de nossos irmãos e irmãs, a despeito das distâncias geográficas que nos separam.
Esperamos contar com o envolvimento e disposição de cada falante, para que possamos juntos mobilizar cada vez mais pessoas que clamem conosco aos céus em favor da concretização do Reino de Deus e sua justiça, inaugurados pelo Cristo ressurreto. E, como escreveu o Bispo Anglicano N.T. Wright. “Pois [com a ressurreição de Jesus] a nova criação de Deus já começou, e nós como seus seguidores, temos uma tarefa a realizar! Jesus ressuscitou e nós devemos ser seus arautos, anunciando que Ele é o Senhor do Mundo inteiro e fazendo com que (através dos nossos atos, palavras, manifestações) o Seu Reino se estabeleça, assim na terra como no céu”. (Wright, 2009).
Em cada um de vocês, nosso grande e fraterno abraço!

Coordenação de Oração e Liturgia da Rede FALE