quinta-feira, 30 de junho de 2011

POR UMA FÉ QUE DIALOGA

Cada vez mais tenho certeza que somos uma geração de cristãos que precisa a conjugar o verbo “dialogar”. Por que faço essa declaração? Um dia desses, estava com líderes cristãos, e argumentei que precisamos dialogar com o movimento LGBT pra pensar sobre questões sobre homofobia e a PLC 122/2006, para quem sabe, pudéssemos chegar a um denominador comum, onde todos os direitos, seja por garantia de liberdade religiosa ou de garantia de proteção da vida de homossexuais, fossem garantidos. Logo fui taxado de "apoiador do pecado”, "liberal", entre outras pérolas que tentavam por em cheque minha fé evangélica.
Sem querer entrar no mérito da questão da PLC 122/2006, queremos apenas alertar para o desafio de saber participar com qualidade nos espaços públicos, onde não podemos fugir da realidade concreta que vivemos num mundo plural e que devíamos, como cristãos, interagir socialmente com todos indistintamente, inclusive com a diversidade que há no meio cristão evangélico.
Diálogo não significa que os cristãos precisam abrir mãos de seus valores ou negar sua fé, mas compreender que solo que frutifica a fé é encharcado de amor. O Sacerdócio cristão, que é dada a todos os crentes, nos convoca a pastoreiar o mundo. Pastoreio que não existe sem escuta, cuidado, misericórdia e desejo de ver o bem do outro, mesmo quando ele não queira se converter a nossa fé.
Quando isso não acontece, a igreja vira clube religioso fechado, se torna luz escondida debaixo da mesa, espaço de exclusão e fuga. Igreja só é igreja quando ela não é apenas espaço de refúgio, mas quando sabe que seu espaço de missão é no mundo. Ou nossa missão é no mundo ou simplesmente não somos igreja. E quando não fazemos nossa missão no mundo, só servimos para ser pisados pelos homens, como bem disse Cristo.
O próprio Jesus é alguém que não oferece respostas prontas, mas é capaz de dialogar com a mulher do poço, abraçar crianças, dar atenção a cegos, leprosos e samaritanos, ou tomar "cafezinho" na casa de um cobrador de impostos corrupto. Até com ladrões que estão sendo crucificados junto com Ele, "deu uma ideia" com esses! Para cada uma dessas experiências narradas na Bíblia, Jesus é capaz de fazer conexões e pontes para tornar sua proclamação relevante, sempre falando para corações em mente. Jesus esteve no mundo para a vida! Tinha consciência de não fazer acepção de pessoas não era a rota que norteava seus pés. Muito pelo contrário! Pedagogicamente, seus atos eram meios para incluir aqueles que não tinham voz ou vez.
Infelizmente, creio que essa postura não dialógica é o que torna nossa comunicação do evangelho uma pedra de tropeço para a proclamação do Reino. Somos filhos de Deus, não donos da verdade ou pecadores melhores que outros. A cruz de Cristo nos iguala a uma mesma condição e cabe aqueles que dizem ser discípulos dEle, serem os primeiros a viver o exercício da misericórdia e do amor encarnacional. A encarnação nos leva pros becos, ruas, praças e periferias de nossas cidades. Em contrapartida, uma fé sorumbática é aquela que não consegue refletir as grandes questões do nosso tempo, mas fica na defensiva, por medo ou por interesses de ter hegemonia na marra.
O resultado final é que grupos como os LGBT cada vez mais se afastam de nós e nutrem uma postura belicosa. Não cabe aqui questionar a postura belicosa desses grupos, mas o quanto nossa incapacidade gera mau testemunho e mantém as pessoas alienadas de nós e do Deus que dizemos servir. Pior é constatar que mal conseguimos conviver respeitosamente com a diversidade mesmo do Corpo de Cristo, já que é nítida nossa dificuldade de viver em unidade.
Em suma: Façamos nossa parte. Sejamos uma Igreja Amorosa, que aprende a ouvir, dialogar e interagir com o mundo. Igreja que faz diferença pela sua presença iluminadora e comprometida com a revolução do novo nascimento. Que ama e é capaz de dar a vida para salvar o mundo!
Em Cristo, que inclui todos no seu amor.

Caio Marçal
Sec. De Moblização da Rede FALE – www.fale.org.br

Um comentário:

Mima disse...

Lindo texto. Acho que deveria ser lido em todas as igrejas. Às vezes eu penso sobre isso: por que os desvalidos tinham tanto amor e tanta vontade de estar com Jesus, e hoje, eles fogem dos servos de Deus? Será que estamos entendendo bem nosso papel em servir e em amar? Porque a Bíblia diz que eles nos conhecerão pelo amor que tivermos uns aos outros. Mas eles nos conhecem pelo nosso desamor. Oremos e voltemos às origens, ao amor inicial, ao exemplo do nosso Senhor.