Depois dos lamentáveis atos truculentos da ação da PM do Espírito Santo numa desocupação em Aracruz que resultou na agressão do membro da Rede FALE Eric “Peruca” Rodrigues, segue manifestações e relatos da desastrosa ação policial em solo capixaba.
"As decisões judiciais têm que ser cumpridas, no entanto, é inaceitável que num Estado Democrático o BME continue a disparar tiros de borracha contra representantes da sociedade civil, como é o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos. A Ordem se solidariza com o presidente do Conselho e sabe que o governador Renato Casagrande, fiel a sua trajetória, não permitirá que o cumprimento da Lei desborde em atos de violência", afirmou Homero Mafra, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Espírito Santo (OAB-ES)¹.
"Há um manual com procedimentos para esse tipo de ação que não foi cumprido. Eles poderiam ter solicitado a nossa intervenção junto àquelas famílias para evitar que a polícia fizesse a desapropriação. Além disso, caso as negociações não avançassem, nós poderíamos ter acompanhado o processo de reintegração para tentar evitar o conflito", conclui o Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Gilmar Ferreira de Oliveira².
No relato de Gustavo de Biase, líder dos Valentes Noturnos ( grupo missionário que faz trabalho humanitário/evangelístico para pessoas carentes), há atos de agressão, humilhação e o falecimento de uma senhora.
“Na segunda feira (16/05) recebi uma ligação do Valdinei (líder do então Bairro Nova Esperança) pedindo ajuda, pois de acordo com ele a desocupação estaria marcada para quarta feira (18/05). De imediato liguei para o CEDH(Justiça Global) e Lula me disse que não tinham sido comunicados, portanto era muito improvável que a ação de desocupação ocorresse nesta data. Mesmo assim, fomos para o acampamento terça a noite e passamos a noite em claro pensando em estratégias para que a população pudesse permanecer em suas casas, visando o diálogo com o governador e entidades de direitos humanos.
Às 9hs chegou o efetivo do BME, com mais de 400 policiais fortemente armados, com atiradores de elite posicionados na empresa vizinha ao terreno (NUTRIGAZ). Chamaram um representante dos moradores e entregaram um documento, alegando que eles teriam que sair imediatamente do local. Em seguida, recuaram, e após 10 minutos lançaram bombas de efeito moral, efetuaram disparos com balas de borracha, vieram com a cavalaria, ferindo crianças que estavam na linha de frente, as quais entraram em desespero e começaram a chorar e correr.
Não houve diálogo. Não deram a possibilidade aos moradores de retirarem seus imóveis... Conversei com vários moradores (das primeiras casas destruídas) que disseram ter perdido tudo (documento, dinheiro, móveis) pois a PM não os deixou entrar em casa para retirar nada. O Estado não ofereceu lugar (abrigo) para quem não tinha aonde ir... Não ofereceram caminhão para levar seus objetos a outro lugar... Em conjunto com o BME, atuaram dezenas de homens da ROTAM e do GAO, de forma despreparada, truculenta, agredindo qualquer morador que passasse na frente deles. Inclusive, revistaram eu, Tadeu, Eric e Jaime nos xingando e ameaçando nos levar para a delegacia. Ficamos com escopetas apontadas para nossas cabeças durante uns "eternos" 20 ou 30 minutos. Segundo eles, somos "vagabundos que defendem mendigos invasores." Presenciei policiais do GAO chutando o rosto de adolescentes que caiam no meio da correria, numa cena digna de tortura de filme policial.
A ação policial continuou no decorrer do dia, com muitos tiros e bombas desnecessárias. Quando o presidente do CEDH chegou com sua equipe, caminharam em direção aos policiais para iniciar o diálogo. Foram recebidos com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo em sua direção. Posteriormente enviaram recado de que não tinham nada para conversar com os direitos humanos, pois estavam ali só pra cumprir a ordem. Se Gilmar(Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos) quisesse falar com alguém, era pra ligar pro 190. Até a imprensa foi atingida por bombas e balas de borracha.
Uma senhora (Dona Santa) que sofreu um AVC no início da manhã durante a operação de guerra da PM, faleceu ontem. Durante toda operação, um helicóptero dava voos rasantes a fim de intimidar a população. Aquele lugar parecia um campo de batalha, onde só um dos lados estava armado e o outro corria desesperado, desarmado, chorando, acuado por todos os lados”.
Haverá um Ato em Defesa dos Direitos Humanos no Espírito Santo( dia 31 de maio, terça, 9:00 –12:00), com a intenção de levantar a bandeira dos graves problemas de desrespeito e violência da Polícia Militar, cobrar do governador a interferência do governo estadual na luta pelo uso da terra e por moradia em Aracruz em favor dos mais pobres e não das grandes empresas e ações concretas e imediatas que reestabeleçam a dignidade das famílias que tiveram suas casa demolidas em Aracruz e seus corpos violados pela truculência policial.
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