quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mais relatos de abusos da PM do ES em Aracruz

 

Depois dos lamentáveis atos truculentos da ação da PM do Espírito Santo numa desocupação em Aracruz que resultou na agressão do membro da Rede FALE Eric “Peruca” Rodrigues, segue manifestações e relatos da desastrosa ação policial em solo capixaba.

"As decisões judiciais têm que ser cumpridas, no entanto, é inaceitável que num Estado Democrático o BME continue a disparar tiros de borracha contra representantes da sociedade civil, como é o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos. A Ordem se solidariza com o presidente do Conselho e sabe que o governador Renato Casagrande, fiel a sua trajetória, não permitirá que o cumprimento da Lei desborde em atos de violência", afirmou Homero Mafra, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Espírito Santo (OAB-ES)¹.

"Há um manual com procedimentos para esse tipo de ação que não foi cumprido. Eles poderiam ter solicitado a nossa intervenção junto àquelas famílias para evitar que a polícia fizesse a desapropriação. Além disso, caso as negociações não avançassem, nós poderíamos ter acompanhado o processo de reintegração para tentar evitar o conflito", conclui o Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Gilmar Ferreira de Oliveira².

No relato de Gustavo de Biase, líder dos Valentes Noturnos ( grupo missionário que faz trabalho humanitário/evangelístico para pessoas carentes), há atos de agressão, humilhação e o falecimento de uma senhora.

“Na segunda feira (16/05) recebi uma ligação do Valdinei (líder do então Bairro Nova Esperança) pedindo ajuda, pois de acordo com ele a desocupação estaria marcada para quarta feira (18/05). De imediato liguei para o CEDH(Justiça Global) e Lula me disse que não tinham sido comunicados, portanto era muito improvável que a ação de desocupação ocorresse nesta data. Mesmo assim, fomos para o acampamento terça a noite e passamos a noite em claro pensando em estratégias para que a população pudesse permanecer em suas casas, visando o diálogo com o governador e entidades de direitos humanos.

Às 9hs chegou o efetivo do BME, com mais de 400 policiais fortemente armados, com atiradores de elite posicionados na empresa vizinha ao terreno (NUTRIGAZ). Chamaram um representante dos moradores e entregaram um documento, alegando que eles teriam que sair imediatamente do local. Em seguida, recuaram, e após 10 minutos lançaram bombas de efeito moral, efetuaram disparos com balas de borracha, vieram com a cavalaria, ferindo crianças que estavam na linha de frente, as quais entraram em desespero e começaram a chorar e correr.

Não houve diálogo. Não deram a possibilidade aos moradores de retirarem seus imóveis... Conversei com vários moradores (das primeiras casas destruídas) que disseram ter perdido tudo (documento, dinheiro, móveis) pois a PM não os deixou entrar em casa para retirar nada. O Estado não ofereceu lugar (abrigo) para quem não tinha aonde ir... Não ofereceram caminhão para levar seus objetos a outro lugar... Em conjunto com o BME, atuaram dezenas de homens da ROTAM e do GAO, de forma despreparada, truculenta, agredindo qualquer morador que passasse na frente deles. Inclusive, revistaram eu, Tadeu, Eric e Jaime nos xingando e ameaçando nos levar para a delegacia. Ficamos com escopetas apontadas para nossas cabeças durante uns "eternos" 20 ou 30 minutos. Segundo eles, somos "vagabundos que defendem mendigos invasores." Presenciei policiais do GAO chutando o rosto de adolescentes que caiam no meio da correria, numa cena digna de tortura de filme policial.

A ação policial continuou no decorrer do dia, com muitos tiros e bombas desnecessárias. Quando o presidente do CEDH chegou com sua equipe, caminharam em direção aos policiais para iniciar o diálogo. Foram recebidos com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo em sua direção. Posteriormente enviaram recado de que não tinham nada para conversar com os direitos humanos, pois estavam ali só pra cumprir a ordem. Se Gilmar(Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos) quisesse falar com alguém, era pra ligar pro 190. Até a imprensa foi atingida por bombas e balas de borracha.

Uma senhora (Dona Santa) que sofreu um AVC no início da manhã durante a operação de guerra da PM, faleceu ontem. Durante toda operação, um helicóptero dava voos rasantes a fim de intimidar a população. Aquele lugar parecia um campo de batalha, onde só um dos lados estava armado e o outro corria desesperado, desarmado, chorando, acuado por todos os lados”.

Haverá um Ato em Defesa dos Direitos Humanos no Espírito Santo( dia 31 de maio, terça, 9:00 –12:00), com a intenção de levantar a bandeira dos graves problemas de desrespeito e violência da Polícia Militar, cobrar do governador a interferência do governo estadual na luta pelo uso da terra e por moradia em Aracruz em favor dos mais pobres e não das grandes empresas e ações concretas e imediatas que reestabeleçam a dignidade das famílias que tiveram suas casa demolidas em Aracruz e seus corpos violados pela truculência policial.

 

¹ - http://www.oabes.org.br/detalhe_noticia.asp?id=553513

² -http://www.oabes.org.br/detalhe_noticia.asp?id=553513

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