Por Tatiana Félix*
O seminário "Segurança Pública e Promoção da Igualdade Racial", realizado entre os dias 12 e 14 deste mês, em Brasília, Capital Federal, é considerado pelo movimento negro como um marco histórico no país. O motivo, segundo Elder Mahin, coordenador do Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE), é que o evento atendeu a uma demanda deste setor, que há anos busca solução para a questão do racismo contra os jovens, tão presente na sociedade e, principalmente, nos profissionais da segurança pública.
Outro motivo de comemoração é que o FONAJUNE está integrando o Grupo de Trabalho (GT) que vai elaborar a disciplina sobre as questões étnico-raciais, num curso de formação para policiais de todo o Brasil, desenvolvido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça. O GT, formado durante o seminário, terá um prazo de até 60 dias para aprimorar as propostas que surgiram no evento.
Elder disse que um dos papéis do FONAJUNE neste GT é lutar para que o curso de formação para os policiais tenha uma carga horária ampla, a fim de que possa abranger conteúdo necessário para provocar uma mudança conceitual no setor. "Acreditamos também que, além da formação, deve haver um monitoramento diário que acompanhe a abordagem do policial. Não adianta apenas ter a formação, é preciso monitorar. Queremos uma mudança comportamental", enfatizou.Ele comentou que a abordagem policial costuma ser bastante traumática e repressiva, sobretudo, sobre os jovens negros. O movimento juvenil defende que a polícia leve em conta que o jovem vive um momento de formação pessoal, e assim sendo, adote uma abordagem mais preventiva.
"A segurança pública é o setor que mais pratica o racismo. É indisfarçável e indiscutível a presença do racismo na segurança pública. Precisamos superar essa doença social", afirmou Elder.
Ele lembrou que dados da Anistia Internacional revelam que a polícia brasileira é a que mais mata jovens no mundo. Além disso, o crescimento de homicídio entre jovens no país é superior à média mundial.
"Nossas expectativas sobre os resultados deste trabalho são as melhores possíveis. Acreditamos que o país vive um momento de abertura às discussões de temas polêmicos. Esperamos que essa experiência vá além da Polícia e alcance também outras instituições públicas que são acostumadas a reforçar o racismo", finalizou.
Desde janeiro do ano passado, o Fórum de Juventude Negra articula e campanha contra o extermínio da juventude negra. O objetivo é denunciar a violência praticada contra os jovens negros no país, e, também propor um novo modelo de comportamento. "A juventude negra está lutando pelo seu direito de viver", declarou o coordenador do Fórum.
*Tatiana Felix é Jornalista da Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital)
Veja mais:
+ Campanha Nacional contra o extermínio da Juventude Negra (Blog do FOJUNE - Bahia)
Um comentário:
Parabéns Tatiana pelo texto.
Realmente, o que antes acontecia aos montes na clandestinidade, hoje acontece para toda a mídia ver.
Salários baixos, horas abusivas de trabalho, ou pré-disposição de caráter?
Não sei... Mas qualquer iniciativa para trabalhar aspectos humanos da polícia já é de muita utilidade. Pelo menos para nó, cidadãos comuns que já anda com medo da bandidagem, e de uns tempos pra cá tem que ter ainda medo da polícia também.
Um absurdo!
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