quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Imagens do meu mundo: exposição mostra resultado de oficina de fotografia com crianças


Temas e cores clicados sem medo revelam infância e juventude da Vila São Francisco das Chagas e arredores do bairro Carlos Prates, na região noroeste de Belo Horizonte


Tente imaginar um grupo elétrico de crianças entre nove e onze anos, equipadas com máquinas fotográficas e filmes e incumbidas, depois de algumas instruções básicas, da missão de voltar com fotos tiradas por elas mesmas. O resultado, surpreendente por vários ângulos, pode ser visto na exposição Imagens do Meu Mundo, realizada a partir das fotografias das crianças do Projeto Acolher sob a orientação da estudante de jornalismo Ângela Bacon. A exposição pode ser vista a partir do dia 1 de dezembro no Centro de Educação São Francisco e segue para o Centro Cultural da UFMG, onde ficará aberta ao público entre os dias 6 de dezembro e 4 de janeiro de 2008. O circuito da exposição inclui também o Espaço Multimeios do Centro de Cultura Lagoa do Nado, onde a exposição estará entre os dias 10 e 31 de janeiro de 2008.

A iniciativa, parte de um projeto de conclusão do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tinha como meta não só fazer uma crítica da abordagem freqüentemente estereotipada da mídia para tratar a pobreza, como também tornar acessível à população de favelas um instrumento pelo qual ela pudesse mostrar sua visão pessoal do ambiente que a cerca.

Segundo Ângela, as imagens que aparecem nos jornais costumam enfocar pobreza, desemprego, criminalidade e apresentam esses indivíduos como vítimas passivas da desigualdade social. Mas essa é uma realidade já filtrada, pois traz o olhar de fotógrafos profissionais oriundos, em geral, de outras classes sociais. “O projeto propôs um deslocamento: como as câmeras fotográficas estão nas mãos da criançada, surgiram imagens mais carregadas da experiência delas”, explica. Para a estudante, essas fotografias podem dizer mais sobre a realidade e identidade das crianças, além de serem inovadoras e diferentes.


A capacidade de observação dos fotógrafos mirins transparece em enquadramentos inusitados, temas criativos, personagens diversos e no cotidiano visto de dentro, elementos que mostraram que dar oportunidade às crianças não exclui a possibilidade de um trabalho bem-feito e dotado de qualidade artística. “Cada revelação trazia novas surpresas”, conta Ângela.
Quando surgiu, nas primeiras décadas do século XIX, a fotografia mudou o mundo. A técnica, cujo nome vem do grego e significa “desenhar com luz”, tem raízes na Idade Média, que já investigava a câmara escura, e avança nos séculos seguintes com a descoberta da fotossensibilidade dos sais de prata.

Os dois princípios aliados obtiveram um produto que parecia reproduzir fielmente a realidade, o que provocou uma revolução na arte e resultou no progressivo abandono da pintura realista, na popularização dos retratos (até então exclusividade dos mais ricos), na invenção do cinema e na busca por novas formas de expressão.

Em tempos pós-Revolução Industrial, chegou-se a afirmar que a fotografia tornava a pintura obsoleta. Mas em breve ficou claro que a máquina não substituía o pincel nem dispensava a presença humana. Como sempre, era necessário o olhar. Era necessário um ponto de vista. O mistério da fotografia era que o determinante não estava apenas na paisagem ou no rosto, mas do outro lado do espelho, no que ficava invisível, na mão que posicionava a câmera.


A canção Brejo da Cruz, de Chico Buarque, fala de meninos que se alimentam de luz. Talvez um dos grandes méritos da exposição Imagens do Meu Mundo seja justamente provar que esses pequenos, embora expostos a situações de risco nas favelas brasileiras, têm algo a oferecer: eles podem, também, desenhar com luz. Afinal, desde sempre, a fotografia pressupõe luminosidade, escuridão e sensibilidade, coisa que – quem conferir a exposição poderá verificar – não falta a nenhum dos novos artistas.





Exposição Imagens do Meu Mundo
Resultados da oficina de fotografia com crianças do Projeto Acolher
Vila São Francisco B. Carlos Prates Belo Horizonte - MG Brasil

6 a 15/dez
2a a 6a-feira, de 10 às 21h, sáb. e dom., de 10 às 18h
Centro Cultural da UFMG (Hall Superior)Av. Santos Dumont, 174 - Centro

10 a 31/jan/08
3a a domingo, de 9 às 17h
Centro de Cultura Lagoa do Nado - (Espaço Multimeios Mestre Orlando)
R. Ministro Hermenegildo de Barros, 904 - Itapoã

Realização:
Projeto Acolher
Terceira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte
Apoio:
CesFran (Centro de Educação São Francisco)
FlashColor
Centro Cultural da UFMG
Fundação Municipal de Cultura
Prefeitura de Belo Horizonte

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