terça-feira, 29 de maio de 2012

Os cristãos e as políticas sobre drogas

por Pedro F. Grabois

Em geral, quando o assunto é drogas, os cristãos tendem a responsabilizar o indivíduo e conduzir a discussão a partir de um ponto de vista moralista. A abordagem que membros do FALE-RJ têm procurado conduzir é um pouco diferente.
Pedro, André, Cadu e João Alexandre

No Rio de Janeiro, no ano de 2011, pessoas, igrejas e organizações realizaram os Abraços de Jesus no Jacarezinho, favela/bairro da Zona Norte do Rio conhecida por abrigar uma enorme cracolândia situada na própria linha do trem. A atividade consistia basicamente em abraçar os usuários de drogas que ali se encontravam. Recentemente, foi realizado também um Orando Pela Justiça (culto de oração temático) na Igreja Metodista do Jacarezinho.
Do Abraçar e do Orar surgiu a necessidade de Conversar sobre o tema, bastante complexo e que envolve uma série de elementos, atores sociais e situações: usuários de drogas, vendedores de drogas, intervenções policiais, assistentes sociais, agentes da prefeitura, igrejas, drogas, armas, pobreza, disputa política, etc.

Dia 2 de maio, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil acolheu os “falantes” para um Papo de Improviso com o Prof. Dr. Delambre de Oliveira sobre acolhimento cristão e a atual política de drogas. À mesa, estavam André Guimarães, Pedro Grabois, Cadu e João Alexandre (músico, cantor e compositor), interagindo com cerca de 50 pessoas que participavam do debate.
Delambre (mediador do debate) abriu a noite, defendendo a importância de um lugar como o Seminário do Sul se permitir pensar temas o das drogas e em sua conclusão fez menção ao momento histórico que aquele debate representava para o meio batista e evangélico em geral. Cadu fez, então, a leitura de seu rasgante poema Desumanofaturados do Jacarezinho*, escrito depois de um Abraço de Jesus. André resgatou um pouco do histórico das ações da igreja evangélica no RJ em relação aos dependentes químicos, fazendo menção ao pioneirismo da Comunidade S8 e à experiência do Desafio Jovem. Para além dos problemas específicos das hoje chamadas comunidades terapêuticas, convidou os participantes a pensarem a Igreja de Cristo como uma grande Comunidade Terapêutica, isto é, uma comunidade de acolhimento. 
João Alexandre e Delambre

Pedro procurou situar a questão das drogas como problema político, defendendo a importância de recorrer aos espaços de participação social (como Conselhos de Direitos e Fóruns da Sociedade Civil) e a necessidade de pensar a “descriminalização” das drogas como um caminho mais propício para aproximar-se dos usuários, coisa que uma política repressiva, em sua opinião, acabaria por dificultar. João Alexandre, que em seguida se apresentaria com um show de música brasileira, falou de sua experiência pessoal como cristão e de uma renovação recente em sua vida a partir da percepção da necessidade de uma re-conversão em direção ao próximo, desafio que ele vem aceitando em seu dia-a-dia.   
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No dia 10 de maio, ocorreu uma Audiência Pública sobre o Crack, convocada pela Comissão de Saúde da ALERJ (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). A sociedade civil e o governo debateram e encaminharam demandas com a colaboração e o depoimento de representantes das Secretarias Municipais de Assistência Social e de Educação do Rio de Janeiro, do Ministério Público, dos Conselhos Regionais de Psicologia, de Enfermagem e de Assistência Social, e também com a participação de deputados, sociólogos, educadores, acadêmicos, psiquiatras, advogados, usuários e familiares de usuários de drogas, entre outras pessoas e instituições.
Entre os presentes, o Desembargador Siro Darlan – conhecido por sua longa atuação pelos direitos das crianças e adolescentes – defendeu uma política de proteção integral com real garantia de direitos e apontou problemas que ligam as casas de internação a casos de tortura.
Imagem da Audiência Pública na ALERJ, presidida pela Deputada Janira Rocha

Em resumo, a Audiência apontou as seguintes questões/desafios: atraso nas políticas de saúde; problemas graves na metodologia de abordagem conhecida como “recolhimento compulsório”; necessidade de (re)conhecer e investir no trabalho de prevenção feito nas escolas; disputas políticas e econômicas que colocam o crack em foco, como se fosse questão recente; entre outros.

O acompanhamento de políticas sobre drogas no Estado do Rio de Janeiro faz parte da campanha temática Jovens demais pra morrer (contra o extermínio de jovens no RJ), em fase de planejamento.

*Trecho de Desumanofaturados do Jacarezinho (poema de Cadu)
“É comum vê-los, ex-jovens-ex-ultrajovens, que passaram por universidades, com os olhos frios e radiantes; ex-pastores evangélicos, que sufocados pelas cortinas de ferro, pelas andro-damas de ferro da fé-legalista-fundamentalista, sucumbiram ao metal-pesado das drogas-de-uma-tonelada-que-custam-10-reais ou menos; ex-ex-detentos detidos nas paredes de papelão claustrofóbicas e insuportavelmente quentes e degradantes; ex-ex-mães de filhos paridos à revelia do carinho paterno e da saúde pública alucinando suas tragédias à luz de demônios pessoais de uma intra-guerra onde só Jesus pode erguer uma bandeira branca de uma Paz difícil mesmo de entender.”

Foto extraída da internet mostrando pessoas na linha do trem na Comunidade do Jacarezinho

Para maiores informações, para se envolver e/ou para ler a poesia de Cadu na íntegra:
Entre em contato com o Fale-RJ: redefale.rj@gmail.com
Siga o Fale no twitter: @redefale

Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas:
www.senad.gov.br

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