Em geral,
quando o assunto é drogas, os cristãos tendem a responsabilizar o indivíduo e
conduzir a discussão a partir de um ponto de vista moralista. A abordagem que
membros do FALE-RJ têm procurado conduzir é um pouco diferente.
Pedro, André, Cadu e João Alexandre
No Rio de Janeiro,
no ano de 2011, pessoas, igrejas e organizações realizaram os Abraços de Jesus no Jacarezinho, favela/bairro
da Zona Norte do Rio conhecida por abrigar uma enorme cracolândia situada na própria linha do trem. A atividade consistia
basicamente em abraçar os usuários de drogas que ali se encontravam.
Recentemente, foi realizado também um Orando
Pela Justiça (culto de oração temático) na Igreja Metodista do Jacarezinho.
Do Abraçar e do Orar surgiu a necessidade de Conversar
sobre o tema, bastante complexo e que envolve uma série de elementos, atores
sociais e situações: usuários de drogas, vendedores de drogas, intervenções
policiais, assistentes sociais, agentes da prefeitura, igrejas, drogas, armas,
pobreza, disputa política, etc.
Dia 2 de maio, o Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil acolheu os “falantes” para um Papo
de Improviso com o Prof. Dr. Delambre de Oliveira sobre acolhimento cristão
e a atual política de drogas. À mesa, estavam André Guimarães, Pedro Grabois,
Cadu e João Alexandre (músico, cantor e compositor), interagindo com cerca de
50 pessoas que participavam do debate.
Delambre (mediador
do debate) abriu a noite, defendendo a importância de um lugar como o Seminário
do Sul se permitir pensar temas o das drogas e em sua conclusão fez menção ao
momento histórico que aquele debate representava para o meio batista e
evangélico em geral. Cadu fez, então, a leitura de seu rasgante poema Desumanofaturados do Jacarezinho*,
escrito depois de um Abraço de Jesus.
André resgatou um pouco do histórico das ações da igreja evangélica no RJ em
relação aos dependentes químicos, fazendo menção ao pioneirismo da Comunidade S8 e à experiência do Desafio Jovem. Para além dos problemas
específicos das hoje chamadas comunidades
terapêuticas, convidou os participantes a pensarem a Igreja de Cristo como
uma grande Comunidade Terapêutica, isto é, uma comunidade de acolhimento.
João Alexandre e Delambre
Pedro
procurou situar a questão das drogas como problema político, defendendo a
importância de recorrer aos espaços de participação social (como Conselhos de
Direitos e Fóruns da Sociedade Civil) e a necessidade de pensar a “descriminalização” das drogas
como um caminho mais propício para aproximar-se dos usuários, coisa que uma
política repressiva, em sua opinião, acabaria por dificultar. João Alexandre,
que em seguida se apresentaria com um show de música brasileira, falou de sua
experiência pessoal como cristão e de uma renovação recente em sua vida a partir
da percepção da necessidade de uma re-conversão em direção ao próximo, desafio
que ele vem aceitando em seu dia-a-dia.
[...]
No dia 10 de maio, ocorreu uma Audiência Pública
sobre o Crack, convocada pela Comissão de Saúde da ALERJ (Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro). A sociedade civil e o governo debateram e encaminharam
demandas com a colaboração e o depoimento de representantes das Secretarias
Municipais de Assistência Social e de Educação do Rio de Janeiro, do Ministério
Público, dos Conselhos Regionais de Psicologia, de Enfermagem e de Assistência
Social, e também com a participação de deputados, sociólogos, educadores, acadêmicos,
psiquiatras, advogados, usuários e familiares de usuários de drogas, entre
outras pessoas e instituições.
Entre os
presentes, o Desembargador Siro Darlan – conhecido por sua longa atuação pelos
direitos das crianças e adolescentes – defendeu uma política de proteção integral
com real garantia de direitos e apontou problemas que ligam as casas de internação
a casos de tortura.
Imagem da Audiência Pública na ALERJ, presidida pela Deputada Janira Rocha
Em resumo, a
Audiência apontou as seguintes questões/desafios: atraso nas políticas de
saúde; problemas graves na metodologia de abordagem conhecida como “recolhimento
compulsório”; necessidade de (re)conhecer e investir no trabalho de prevenção feito
nas escolas; disputas políticas e econômicas que colocam o crack em foco, como
se fosse questão recente; entre outros.
O acompanhamento
de políticas sobre drogas no Estado do Rio de Janeiro faz parte da campanha temática
Jovens demais pra morrer (contra o extermínio
de jovens no RJ), em fase de planejamento.
*Trecho de Desumanofaturados
do Jacarezinho (poema de Cadu)
“É
comum vê-los, ex-jovens-ex-ultrajovens, que passaram por universidades, com os
olhos frios e radiantes; ex-pastores evangélicos, que sufocados pelas cortinas
de ferro, pelas andro-damas de ferro da fé-legalista-fundamentalista,
sucumbiram ao metal-pesado das drogas-de-uma-tonelada-que-custam-10-reais ou
menos; ex-ex-detentos detidos nas paredes de papelão claustrofóbicas e
insuportavelmente quentes e degradantes; ex-ex-mães de filhos paridos à revelia
do carinho paterno e da saúde pública alucinando suas tragédias à luz de
demônios pessoais de uma intra-guerra onde só Jesus pode erguer uma bandeira
branca de uma Paz difícil mesmo de entender.”
Foto extraída da internet mostrando pessoas na linha do trem na Comunidade do Jacarezinho
Para maiores
informações, para se envolver e/ou para ler a poesia de Cadu na íntegra:
Entre em
contato com o Fale-RJ: redefale.rj@gmail.com
Siga o Fale
no twitter: @redefale
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas:
www.senad.gov.br
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