Traduzido por: Marcus Vinicius Matos
Já faz algumas semanas desde que o movimento Occupy St. Paul foi removido, sem cerimônias, de seu acampamento em Londres.
No local da ocupação não há quase nenhuma evidência de sua presença anterior. Os manifestantes estiveram lá por cinco meses, o movimento virou notícia nacional, e agora parece ter se dissipado. Eles não são mais os queridos do ciclo de notícias da grande mídia, e não são mais um espinho no lado da Catedral de St. Paul.
Por muitas razões, isto é lamentável. É uma pena que não tenhamos mais a oportunidade de assistir a Igreja institucional retorcer-se dentro de nós, ao tentar conciliar a sua vocação para os pobres com a burocracia e os custos necessários para sustentar um prédio opulento, e o amor por seus devotos de tantas nacionalidades. É uma pena não termos mais uma voz no centro de Londres que coloque em questão as próprias estruturas em que confiamos para manter nossa economia e sociedade.
Mas é importante lembrar um aspecto específico da atuação dos jovens que fizeram o movimento Occupy em Londres: eles ficaram em tendas. E as barracas são, pela sua própria natureza, um abrigo temporário. Elas são projetadas para serem armadas rapidamente, embaladas de forma rápida e por terem um curto e limitado período de tempo. Elas nos mantêm móveis, flexíveis, e nos impedem de nos tornarmos em uma instituição. Se o movimento occupy permanecesse onde estava indefinidamente, será que ele teria permanecido vivo, desafiador e contra-cultural? Ou ele teria se petrificado em um movimento político, preso em suas próprias idéias? A remoção das barracas não é uma derrota, nem o fim do Occupy em Londres. É uma evolução. Um movimento que sai das ruas para as mentes, jornais, e blogs tagarelas que sempre foram, na realidade, a fonte de sua força durante todo esse tempo.
O triste é que, como cristãos, estamos destinados a ser um povo que vive em tendas. Na sequência de uma coluna de fogo, alojados em um tabernáculo, os israelitas armavam suas tendas onde quer que seu Deus estivesse. Por quarenta anos eles vagaram no deserto, e Deus não permitiu que ficassem confortáveis, recusou deixá-los sossegar. O pensamento judaico foi marcado pelo exílio – pela idéia de que a fé pode perseverar em face de deslocamento e da dispersão. Quando os discípulos encontraram Moisés e Elias em cima de uma montanha, qual foi a sua resposta? "Vamos fazer abrigos!"
O apóstolo Paulo fez tendas para sobreviver – e não ser um fardo para os membros mais caridosos da Igreja primitiva. Isto o manteve independente, afiado; poderíamos dizer que o manteve acima dos caprichos das instituições de fé. Isso significava que ele poderia ser livre para falar como ele escolhesse, manter seu discurso provocador, e mesmo ir contra os saberes da sua época.
Contudo, com o passar dos anos, ficamos preguiçosos. Nós construímos casas de pedra para Deus, e com isso, perdemos nossa capacidade de desafiar – de ser uma voz profética. É comum que mesmo as igrejas mais modernas cometam o erro de igualar projetos de construção e crescimento físico, com sucesso e autenticidade.
Em nenhum lugar esse conflito se tornou mais visível do que quando manifestantes se levantaram para ocupar a igreja de St.Paul, em Londres. A igreja, enraizado na pedra fundamenta da cidade, e dependente de seus milhões de visitantes e turistas para preservar seus edifícios monumentais, lutou para re-encontrar a sua voz profética -, enquanto, os manifestantes, ágeis e rápidos, e com nada a perder além de suas moradias de lona, eram livres para ser mais desafiadores.
Como seria nossa fé sem os edifícios eclesiásticos? Talvez isso nos tornasse mais dinâmicos, mais desafiadores. Nós seríamos cristãs e cristãos mais autênticos em nossas comunidades, menos dependentes de lugares e prédios para nos definir. Será que não deveríamos , então, voltar às nossas raízes, e ser um povo que vive em tendas?
* Matthew é colaborador do site da rede FALE em Londres (SPEAK Network UK).
Fonte: SPEAK Blog
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