sexta-feira, 22 de junho de 2018

O GOL E O SONHO

*Marcelo Santos



Douglas Costa, já livre dos marcadores, avançou pela grande área e cruzou a bola, a meia altura, para Neymar. O jovem craque brasileiro saltou, feito um colibri, e empurrou a bola para as redes. A emoção tomou conta do artilheiro. Enquanto lágrimas escorregavam pelo seu rosto, ele procurou uma das muitas câmeras de tevê. Juntou as mãos, feito um coração, e sussurrou um nome: “Marquinhos”.
Era uma referência ao menino de 14 anos, morto durante uma operação policial no Complexo de Favelas da Maré. Após o jogo, diante de uma placa de acrílico repleta de marcas de grandes empresas nacionais, como Itaú, Antártica, Sadia, Gol e outras, Neymar explicou sua homenagem. Disse que lamentava a violência sem limites no país que fez dele um garoto milionário. Criticou as ações policias que mais matam do que salvam.
O camisa 10 brasileiro lembrou que muitos jovens da Maré são como ele e seus colegas da Seleção. Garotos bons de bola que sonhavam com uma vida melhor. Com o gol. Com a alegria. Lamentou que muitos desses meninos, como grande parte de seus companheiros de time, também não tiveram nem mesmo o direito de crescer com o pai por perto. Neymar mostrou então uma das fotos que estampava os jornais na manhã em que a Seleção Brasileira conquistou sua primeira vitória na Copa. Era a foto da mãe do menino assassinado na Maré, segurando a camisa escolar manchada de sangue. Ele tornou a chorar, dessa vez copiosamente, sendo amparado por colegas do time. A entrevista teve que ser encerrada.
Um sonho de que um gesto de empatia qualquer ajude a gente a suportar estes terríveis dias de injustiça, violência e maldade.
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Marcelo Santos é Jornalista e membro da Igreja Betesda em Osasco


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