“Não por força nem por violência, mas
pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos “(Zacarias 4:6).
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Protestante proibido de se enterrado
no cemitério em Aracati - CE |
Na manhã do dia 28 de junho de 2013, a
Rede FALE esteve junto com diversas lideranças de movimentos juvenis numa
reunião com a presidenta da Republica,
Dilma Rousseff. Morgana Boostel, secretária executiva da Rede FALE e nossa
representante nesse encontro, ressaltou entre outas questões, a defesa do
estado laico.
Há aqui uma pergunta essencial: Por que
a defesa do estado laico é tão cara para uma rede que tem viés evangélico? Como
esse tema se insere nas bandeiras necessárias para o amadurecimento da
democracia brasileira?
Em primeiro lugar, urge lembrar que o
protestantismo no seu início sentiu na pele como um estado cooptado por um
determinado grupo religioso hegemônico (Catolicismo) pode causar estragos.
O Protestante não apenas entrou pelas portas do fundo na vida brasileira, como
lhe é negado uma série de direitos como, por exemplo, ser enterrado num
cemitério público, ter seu casamento reconhecido pelo estado ou liberdade plena
de culto. Isso sem falar nas violências que somente a discriminação pode causar
naqueles que se tornam alvos preferenciais. Não faltam na história do seu nascedouro de relatos de abusos, agressões, humilhações
e desrespeito contra seus adeptos.
Porém é nesse contexto lúgubre, que se
constrói uma das grandes contribuições dos evangélicos para nosso país: a
defesa do estado laico. Nomes como Robert Kalley, líder congregacional, são
importantes na pressão feroz junto as autoridades do Brasil para que houvesse
separação entre igreja e estado. Na constituição de 1891 da então recente
república brasileira, é consagrada separação entre a igreja e o estado, bem como
outras medidas tais como a plena liberdade de culto e a secularização dos
cemitérios.
Embora esses direitos reconhecidos
sejam conquistas importantes, não significa que essas não sofreram muito para
se tornarem efetivos. Não faltaram tensionamentos que forçaram diversos grupos (dentre
eles os protestantes) a defenderem a manutenção do estado laico. Quando em 1925, se é proposto emendas a constituição que
dariam reconhecimento oficial para Igreja Católica como a religião oficial do
Brasil e que a mesma teria o papel de controlar a educação nas escolas
públicas, igrejas evangélicas lideradas pelo reverendo presbiteriano Erasmo
Braga na luta pela preservação dos seus direitos.
Percebemos aqui que existe um longo histórico de engajamento social
em favor da laicidade do estado. É preciso lembrar que esse direito não apenas
reconhece a pluralidade de religiões, mas que nenhum grupo que se valha de sua
força ou influência no âmbito dos poderes de nosso país, pode usá-la para
exercer de forma ilegítima a tirania sobre aqueles que fazem opção de fé
diversa àquela que diz professar.
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Cartaz da Campanha contra o voto de Cajado |
Como uma rede que tem em sua matriz a fé no Cristo, não podemos
aceitar que se use o estado para converter nosso semelhante na marra. É preciso
lembrar o quão desastroso quando a Igreja se assenhorou dos tronos desse mundo
para impor seus valores de forma equivocada. Reafirmamos aquilo que proclamamos
outrora na Campanha Contra o Voto de Cajado: Deus não precisa de precisa de
apadrinhamento político para cumprir seus propósitos na História e é Ele quem
defende sua Igreja. A Igreja, antes de desejar os tronos desse mundo, só reina
pelo Serviço, na busca da Justiça e pela propagação do Amor que encontramos nos
braços afetuosos do nosso Pai Eterno.
Em tempos de voto de cajado e na transformação de igrejas em
currais eleitorais para fins pouco republicanos, é necessário reconhecer que
ainda hoje a tentativa de fragilizar essa contribuição tão relevante do
protestantismo brasileiro. É lamentável que o esquecimento de nossa história
faz com que alguns irmãos cometam o equívoco de se mancomunar com os Reinos
desse mundo para impor sua fé. Não podemos agora usar as mesmas armas que
afligiram nossos irmãos no passado. Em respeito ao legado de nosso passado, não
há outro caminho senão defender a laicidade do estado. Caso contrário, negaremos
nossa identidade como seguidores de Jesus, o Nazareno.
Caio Marçal – Missionário e Sec. de Mobilização da Rede FALE