(ISAAC PALMA)*
Destituídas de si, quem
pode (quem a não ser o homem?) narrar a sua sorte? Caladas, mudas,
incomunicáveis, a incompatível natureza servil, o seu nascer já subjugado, o
julgamento: CULPADA.
O reflexo da narrativa do
homem que povoa parte do mundo com a mais sagrada das instituições o Deus
homem, não só criado a sua imagem e semelhança, mas que colabora com o estado e
a ordem das coisas. Ai de nós, que somos homens herdeiros de um mundo em
decomposição, que nos refundamos, e ainda nos escondemos sob as verdades que
nos passaram. Ousamos ainda criar mecanismos para a nossa absolvição, nós que
somos os verdadeiros culpados, de manter ainda os nossos benefícios.
Calamos suas vozes
múltiplas, reforçamos ainda que imperceptivelmente toda a narrativa que
construímos. Desconstruir! Eis a rebeldia inicial. Eis o pacto feminino com o
sagrado que as vezes profana suas nem tão santas mãos.
(Fonte da imagem: Geledes ) |
Não, as mulheres não
permaneceram caladas. Nem sempre aceitaram ser subjugadas. Coube a nós (homens)
contar a história e repassá-la de modo que as torne IMPERCEPTÍVEIS. Ai de nós
que não percebemos, e que ainda queremos ser protagonistas de suas (in)submissas
histórias, não percebemos que a mulher (não um ser mulher universal, mas suas
múltiplas possibilidades de ser) não nasceu para cuidar de casa, ainda que isso
as ensinem desde sempre, desde suas brincadeiras. Mas nasceram sobretudo pra
subverter a ordem das coisas, essa ordem insustentavelmente machista.
*Isaac é falante do Rio de Janeiro e estuda Ciências Sociais
na UFF.
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