“Na verdade a terra está
contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis,
mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna”. Isaías 24:5
No início, Deus
se abaixou, pegou um punhado de húmus fértil, trouxe-o aos lábios e, quase
degustando o solo, soprou nele e criou a vida. Somos feitos de solo e somos
irremediavelmente e irreversivelmente dependentes dele e de tudo ao que ele dá
vida. Se o solo morre, nós também morremos. No entanto, para muitos de nós,
particularmente nós residentes de cidades, as pessoas e a terra que nos
alimentam são invisíveis. Bahnson e Wirzba dizem que essa desconexão
significativa com a terra resultou em uma amnésia ecológica[1],
presente em duas formas: a física e a existencial.
Existencialmente,
perdemos uma compreensão fundamental do quanto nossas vidas dependem e estão
interligadas com a vida do resto da criação, desde os microorganismos dentro do
solo até as mãos que colhem o nosso jantar.
Fisicamente, a
nossa amnésia ecológica faz com que sejamos muitas vezes inconscientes e/ou
despreocupados com a imensa exploração enfrentada pelos pequenos agricultores,
e também pelo planeta. Embora não possamos testemunhar essa exploração, nós a
apoiamos, somos sustentados por ela e ao mesmo tempo, somos prejudicados por
ela.
Na maioria das
vezes, nós não sabemos quem são as pessoas que fornecem nossos alimentos,
quanto do valor que pagamos realmente chega até eles, ou se eles têm todos os
recursos de que precisam para crescer de forma ecologicamente correta. Conseqüentemente,
nós não sabemos se o que consumimos custou a vida de outros seres vivos, se as
nossas escolhas de consumo estão perpetuando um sistema opressivo e a
degradação do planeta e se o que comemos está envenenando aqueles que plantam e
aqueles que o consomem.
Desde 2010, a Rede FALE trabalha contra essa tendência
cultural, através da temática da Soberania Alimentar e Direito a Terra.
Nessa época, mobilizamos inicialmente uma campanha pela aprovação da PEC
047/2003, que lutava para incluir “Direito Humano à Alimentação” na
Constituição. Graças a mobilização da Rede e de outros setores da sociedade
civil, o direito à alimentação foi incluído como um dos direitos sociais dos
brasileiros.
Ainda em 2010, o
FALE formalizou apoio e participação na Campanha Nacional pelo Limite da
Propriedade da Terra e no Plebiscito Popular pelo Limite de Propriedade da
Terra. O Plebiscito foi um ato concreto do povo brasileiro contra a
concentração de terras no país, que é a segundo maior no mundo, perdendo apenas
para o Paraguai. Essa consulta popular foi fruto da Campanha Nacional pelo
Limite da Propriedade da Terra, promovida pelo Fórum Nacional da Reforma
Agrária e Justiça no Campo (FNRA) desde o ano 2000.
Nessa linha, outros problemas
igualmente sérios ainda se apresentam. Nos últimos anos, o Brasil ultrapassou
os Estados Unidos e se tornou o maior consumidor de agrotóxicos do planeta.
Enquanto o consumo desses produtos no mundo cresceu 93%, entre 2000 e 2010, no
Brasil o aumento foi de 190%. Hoje, cada brasileiro consome mais de cinco
quilos de agrotóxicos.
O uso abusivo de agrotóxicos traz
sérias implicações para a saúde da população e da agricultura, além da
degradação ambiental. Infelizmente o Brasil permite o emprego de substâncias como
o Lactofem ou o Paraquate, que foram banidas de diversos países (União
Européia, por exemplo), justamente porque inúmeros estudos lá realizados
provaram que seu uso causa danos ao ser humano e ao meio ambiente[2].
Além disso, a Bancada Ruralista e as grandes corporações que controlam a produção
de agrotóxicos e defensivos agrícolas têm feito pressão em diversas instâncias
para garantir a circulação desses produtos.
Em 2013, os nossos irmãos do SPEAK,
preocupados com o problema dos agrotóxicos nos Brasil, propuseram uma parceria
internacional para exigir do governo brasileiro um posicionamento com relação
ao uso abusivo dessas substâncias já vetadas em outros países. No intuito de
sensibilizar nossa sociedade e pressionar nossas autoridades quanto a este
grave problema, a Rede FALE promove a campanha a “FALE em defesa da vida sem agrotóxico”. Nosso objetivo é que o
emprego desses agrotóxicos seja terminantemente proibido em todo território
nacional.
A nossa criação tem sido afetada
pela ganância que leva à contaminação e morte da terra. Contamos com a sua voz
e mobilização para que esse veneno seja extirpado do “pão nosso de cada dia”.
Em Cristo,
Coordenação Nacional e Executiva da Rede
FALE
[1]“Como amnésicos, vivemos uma vida ilusória. Esquecemos aquilo que não é apenas bom, mas que é absolutamente fundamental: que somos corpos ligados um ao outro através de teias de alimentação, da água, da respiração, da energia, da inspiração, do prazer, e da alegria.” ‘Making Peace with the Land: God's Call to Reconcile with Creation' por Fred Bahnson e Norman Wirzba, p. 35
[2]
Para saber mais sobre esses estudos, leia o Dossiê da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva (ABRASCO) - http://greco.ppgi.ufrj.br/DossieVirtual/
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