Carta a reunião da Coordenação Nacional da Rede
FALE (24 a 26 de Julho de 2015)
De: Marcus
Vinicius Matos*
Tu te
aproximaste quando a ti clamei, e disseste: "Não tenha medo".
Senhor, tu
assumiste a minha causa; e redimiste a minha vida.
Com esta
mensagem, gostaria de contribuir, ainda que a distância e de maneira
fragmentada, com o encontro, as orações e os debates que vão ocorrer na próxima
reunião da Coordenação Nacional da Rede FALE (CNRF). Já se passaram três anos
desde que sai do Brasil para estudar, então é inevitável que este texto seja
rasgado de memórias e emoções confusas - alegria, tristeza, saudades, aflições
e esperança. Vou tentar resumir todos esses sentimentos em três
palavras: Identidade, Testemunho (mensagem), Esperança.
Identidade
A questão
que mais foi discutida em Encontros Nacionais do FALE anteriores, e em reuniões
como essa que se aproxima, é: “o que é o FALE?”. Essa foi uma pergunta tão recorrente
na história da Rede, que as vezes ela chegava a cansar algumas pessoas. No
entanto, entender quem somos, definir nossa identidade, é parte central da
Missão e do Testemunho que o FALE profere. Em João 3:1-10, nós vemos claramente
a consequência de não saber sua própria identidade: Nicodemos, uma “autoridade
entre os judeus”, se chega a Jesus mas, porque não sabe quem é, também não
reconhece aquele com quem dialoga. Ele chama Jesus de “Mestre”, mas não o
reconhece imediatamente como Salvador, Messias - talvez mais um mestre, como
ele também entendia que era. Na sequencia do texto, vemos o contrário: João
Batista sabe exatamente quem é; por conta disso, não tem dúvidas a respeito de
quem é Jesus. Sem titubear, profere (v28 e 30): "Vocês mesmos são
testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo, mas sou aquele que foi
enviado adiante dele”; "É necessário que ele cresça e que eu diminua”.
Então, é preciso se conhecer, para poder reconhecer o Mestre.
Depois,
saber quem somos é central também para definir o que queremos. Isso ocorre
tanto na dimensão macro, quanto na micro: se não sabemos o que é o FALE, como
seria possível entender as diferentes possibilidades de atuação que se abrem
diante da Rede? Ainda faz sentido ser “rede” ou "movimento social” em um
universo permeado de “redes sociais”? A difusão de “grupos” online, facilita ou
dificulta a dinâmica de “grupos locais”? Qual é, afinal, o papel da
"coordenação nacional”? Todas essas são perguntas menores que, assim como
a primeira, só podem ser respondidas por nós mesmos.
Testemunho
A última
tentativa de responder a essa clássica pergunta foi feita no Encontro Nacional
de 2013. Naquela ocasião, houve um esforço prévio tanto da Coordenação Nacional
quanto das Redes Estaduais e Grupos locais para colocar no papel essas respostas.
Com a dinâmica das decisões que se tomaram, os textos acabaram não correspondendo
a nova dinâmica da Rede. Contudo, creio que é preciso retomar aqueles textos,
alterá-los - talvez transforma-los em imagem? -, como pré-requisito para darmos
um novo passo. Nesse sentido, é preciso repensar a maneira como nos
comunicamos enquanto Rede. A forma como as informações fluem no FALE tem que
refletir a mensagem que pregamos, nosso Testemunho mesmo. É preciso que a
comunicação ocorra com clareza e com justiça.
Penso que a
Coordenação Nacional deve, com leveza e carinho, decidir como comunicar. E
aqui, talvez seja importante dizer: isso que chamamos de “Coordenação Nacional”
surgiu exatamente para que possamos compartilhar decisões. Até 2005, o FALE era
formado por poucas pessoas, e conforme a rede cresceu, foi necessário surgir a
CNRF, exatamente para descentralizar e democratizar as decisões. Nós estamos
hoje coordenadores, exatamente para termos a possibilidade de coordenar - o
que, as vezes, requer assumir os riscos e responsabilidades de tomar
decisões. É necessário que nós, membros da CNRF, saibamos "o que é o
FALE”. Se não soubermos quem somos, certamente não saberemos o que precisamos
fazer. A consequência disso seria a perda de capacidade de mobilização da Rede:
se nos silenciarmos, ou se enviarmos mensagens ambíguas para as pessoas, elas
não compreenderão quem somos; qual é a nossa missão; qual é o nosso testemunho.
E precisamos reafirmá-lo.
Esperança
Até aqui,
talvez eu tenha ficado restrito ao que “foi” o FALE. E quero dizer que, ao
trazer a memória essas questões, o Espírito Santo me enche de Esperança!
Quantas coisas foi o FALE até aqui. Lembro do FALE como ponto de encontro: estudantes, sindicalistas, pastores, que se
reuniam para orar por justiça - uma oração que mudava a cada um, nos levava a
refletir e a agir. Lembro do FALE como uma procissão
redimida: jovens crentes caminhando em passeata por ruas, universidades e
favelas. Lembro do FALE como movimento:
cartões, cultos públicos, encontros, congressos, debates. Por toda essa
história que temos hoje, creio que estamos vivendo um momento singular.
Na Teologia
da Missão Integral, nós somos chamados a “ver”, “sentir” e "agir”. Quero
desafiar vocês a fazer esse exercício neste encontro da CNRF. Precisamos ter
visão: o que está acontecendo no Brasil e na Igreja Brasileira? Como nos
comunicamos com as pessoas, nossos irmãos de fé em nossa igreja local/grupo
bíblico universitário? Depois, precisamos ter sensibilidade: quais são nossos
sonhos coletivos? Ao ver a realidade ao nosso redor, o que se passa no coração
de vocês? A partir do “ver” e do “sentir”, é que teremos capacidade de
construir projetos e campanhas em conjunto, envolvendo pessoas, mobilizando
recursos.
Por fim, quero
que esse texto seja uma mensagem de esperança, mas também de desafio. O que
será o FALE no futuro? Por que caminhos precisamos andar? Qual de vocês sabe a resposta? Minha oração é para que
Deus nos ajude nessa tarefa: que possamos testemunhar a partir do que somos. Se
Cristo amou cada um de nós, da maneira que somos, é desse amor que precisamos e
do qual temos que testemunhar. No âmbito da CNRF, que saibamos exercer
liderança com amor, unidade, e a amizade na diversidade.
Desejo um ótimo momento de Encontro para a CNRF. E deixo um grande e saudoso abraço a cada uma e cada um.
Desejo um ótimo momento de Encontro para a CNRF. E deixo um grande e saudoso abraço a cada uma e cada um.
* Marcus Vinicius Matos é doutorando em Direito pelo Birkbeck
College, na Universidade de Londres, e membro da Coordenação Nacional do FALE
desde 2005. Foi Secretário Executivo da Rede entre 2009 e 2011.
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