Wesley Lima
"Então
os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas
arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos,
e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os
chacais haverá erva com canas e juncos." Isaías 35:6-7
Foto Otávio Nogueira |
No Nordeste brasileiro se concentra a
grande parte da população brasileira e o Sertão brasileiro, onde se encontra
a beleza de um povo acolhedor, trabalhador, de "raça", mas é onde
encontramos pobreza e miséria, coronelismo, comunidades quilombolas esquecidas,
a seca e escassez de recursos.
Ita Porto, da organização cristã Diaconia,
disse que: "A falta de chuvas em períodos
prolongados como o dos últimos 3 anos é considerado um desastre ambiental,
considerado um dos piores dos últimos 50 anos. Segundo o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) já são cerca de 1.200 cidades espalhadas em
nove Estados que já declararam situação de emergência. São 22% dos municípios
do Brasil e quase 10 milhões de pessoas afetadas pelas secas na região. Todos
os estados que compõe o semiárido nordestino estão passando por grandes
dificuldades. Pernambuco, por exemplo, é o estado com maior número de
municípios atingidos. Segundo a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento),
dos 185 municípios do Estado, 151 estão com algum tipo de déficit no
abastecimento. Desses, 16 estão em colapso, sendo abastecidos por
carros-pipa".
Mas somente as chuvas não resolveriam o
problema do sertão de escassez, pois falta um projeto de desenvolvimento
sustentável que consegueria prover qualidade de vida e bem estar a essa
população e o reaproveitamento da água. O pesquisador Fonseca Neto, professor
da Universidade Federal do Piauí (UFPI), nos lembra que: "Dom Pedro II
afirmou que venderia as joias da coroa para resolver o problema. O fato ocorreu
em decorrência da grande seca ocorrida no Nordeste em 1877. Isso demonstra que
o problema é falta de vontade política para dar uma solução de convivência com
um fenômeno natural e previsível."
"Vou dizer uma obviedade, mas, às
vezes, as obviedades nos ofuscam. Nunca se quis resolver esse problema porque a
seca é um fenômeno natural, previsível, cíclica. Os índios que antecederam a
nós se mudavam de um lugar para outro no tempo que apertava. Não se resolve
porque não quer", comentou o pesquisador. Dessa dura constatação se
desenvolveu uma nociva “Indústria da Seca“, que serve às eleições dos políticos
e mantém o povo num patamar de subserviência a essa indústria. Encontramos
exploração dos carros-pipa, com valor muito acima da média.
Certa vez estivemos na cidade de Caridade
do Piauí com uma equipe missionária. Nos deparamos com uma casa com cisterna
que estava com correntes e cadeados, e
perguntamos a dona da casa o porque daquilo. Ela nos disse que era o medo de
outras pessoas a roubarem devido a escassez de água no local. Nessa cidade
também encontramos o
"jumento-pipa" que servia para abastecer algumas casas com
água, em sua maioria não potável. Infelizmente os poderosos ainda tratam o
problema como uma mera máquina eleitoral que gira em torno do sofrimento
alheio. As políticas públicas para o sertão são tratadas como políticas de
emergência que acabam fortalecendo um ciclo que
conserva a estrutura política.
O que nós como igreja de Jesus podemos
fazer? Devemos nos posicionar, orar e denunciar esse problema no sertão. A
igreja, como povo e não apenas como instituição deve prover uma solução
criativa e cobrar dos representantes uma medida sustentável para acabar com
essa indústria da seca no Sertão. Devemos também expressar o amor de Deus a
esse povo tão sofrido e mostrar através de uma missão encarnacional e servidora
que Deus não se esqueceu deles.
Oremos a Deus para que as ordens e
estruturas do mal sejam abaladas e que se levante um povo justo. E que nosso
Senhor possa está provendo e dando influência a organizações missionais e de
serviço cristão como: Rede FALE, ABU, JUVEP, ACEV, DIACONIA, MISSÃO LIVRES,
PROJETO MAIS ÁGUA, ÁGUA LIMPA, PARALELO 10, TEARFUND, TSO e entre outras que
tem se doado pelo sertão e encarnado o evangelho de Cristo em meio a tanto
caos.
Wesley
Lima, 21 anos,
piauiense, outsourcing em TI, articulador no Piauí da Rede FALE. Tenho
desenvolvido uma caminhada missional, cooperando com ações missionárias no
Piauí e sertão nordestino e captação de recursos para desenvolvimento
comunitário.
Um comentário:
Infelizmente a indústria da seca permanece a tantos e tantos anos... Aliada a ela temos uma série de outras indústrias que se formaram e em épocas eleitorais afloram rapidamente. Na amazônia, local onde moro, temos a indústria da água, em uma realidade totalmente oposta a do Nordeste. Passamos por uma das piores cheias já vivenciadas, locais onde nunca imaginamos que viraria rio, virou... as ruas, Avenidas e prédios institucionais se transformaram em rios, distritos e comunidades sumiram em meio a imensidão da água. E o que vimos? uma série de políticos, se aproveitando da desgraça alheia, sem vontade alguma de resolver o problema, utilizando-se em muitas situações da boa fé das pessoas, recolhendo com os cidadãos doações para ajudar os desabrigados, entregando como se eles tivessem comprado, para em outubro cobrar a conta do pobre desabrigado... A agua finalmente baixou, a vida está voltando a normalidade, os desabrigados estão reconstruíndo suas vidas e residências, e os políticos somente retornarão ao encontro destes em outubro, porque até o momento quase, para não dizer nada, foi feito para solucionar o problema que tem grandes chances de ser repetir todos os anos, nas proporções que vivemos em 2014, ganhando vida a indústria da água.
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