por * Ronilso Pacheco
"Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e
grande pranto; era Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser consolada,
porque já não existiam ".
Mateus 2: 18
A alegria da
comemoração do nascimento do Filho de Deus entre os homens não deveria ser
desprovida também da memória do seu contexto. O menino Jesus foi, sobretudo, um
sobrevivente. Sobreviveu a uma perseguição pessoal do governante que, dono da
legitimidade do uso da violência, põe o estado
a serviço da execução de todas as crianças que tivessem entre 0 e 2 anos; foi
refugiado em terra estranha com seus pais; o menino Jesus já nasce marcado para
morrer.
Nessa história Jesus se identifica
com tantas crianças cuja natalidade beira o risco. O risco da falta de
segurança, cuidado e proteção; o risco de estar desprovido dos direitos a que
tem direito e das oportunidades que lhes pavimentam caminhos; o risco da morte
violenta, seja pela agressão doméstica, seja pela vulnerabilidade nos
territórios onde a paz não é garantida; o risco do abandono, sobretudo do
estado que lhe vira as costas; risco do estado, e de uma parcela considerável
da sociedade, que a enxerga como um inimigo em potencial (dependendo da música
que ele queira ouvir, da cor de sua pele e de onde ele poderá morar).
Jesus não simplesmente nasce, seu nascimento também evidencia uma
negligência, uma desumanidade, um mundo classista, violento e arriscado.
Pensemos nisso também.
*Ronilso é de São Gonçalo (RJ), trabalha no Viva Rio e é membro do FALE-RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário