Em um lindo
dia de sol na segunda-feira, fui à universidade, atualmente vou pouco lá, falta
entregar somente monografia. Naquele dia não poderia deixar de ir, era o inicio
das aulas daquele semestre, meu ultimo semestre como aluno de graduação de
história da UFF, e inusitadamente meu aniversário.
Cheguei à
querida cidade de Niterói e decidi-me passar por uma praça, o caminho mais
curto, e teoricamente mais perigoso, -“só encontramos no medo aquilo que
deixamos nele”. Em um dia de sol, com policiamento a vista, compondo um senário
normal passei pelo lugar antes temido. Nada me aconteceu.
Não
aconteceu nada comigo... Não posso dizer o mesmo de um jovem preto,
aparentemente em situação de rua, que recebia uma “dura” agressiva da polícia.
A cena era dantesca, o jovem preto dormia no chão coberto por alguns trapos,
abordado com um chute, logo teve de se levantar ainda mambembe, sendo em
seguida puxado pela gola da camisa e escorado na parece. - O que o PM queria?
Por quê ser agressivo daquele jeito? Estaria ele procurando drogas? Mesmo se
fosse isso, era necessário agir assim? Faço alguma coisa ou fico aqui e finjo
que não é comigo? O que eu tão pequeno poderia fazer? Justo no meu aniversário?
Será que vai ter... tinta pra pintar os calouros?...
Passei, e quis esquecer! Não consegui!
Principalmente
porque sei que a maioria dos jovens, sobretudo pretos e pardos são os que mais
morrer no nosso país, até a Dilma assume isso[1], e
se abordados nas ruas tem ido cada vez mais para a cadeia, as vezes sem terem
feito nada[2]. E
se é menor de idade, a mídia e parte da população que parece não querer se
informar, quer colocar na cadeia também[3].
Talvez
porque não conheçam a realidade do sistema socioeducativo, mas eu também
conheço, já fui a uma unidade[4]. Se pelo
menos soubéssemos todo que quase 90%
dos adolescentes em conflito com a lei não completou o ensino fundamental, um
forte indício de que os atos infracionais desse grupo estão diretamente ligados
à deficiência na escolarização. Se pelo menos soubéssemos que nós jovens somos
mais vítimas do que algozes uma vez que de 1998 a 2008, o número de
adolescentes e jovens assassinados no Brasil cresceu quase 20%[5],
e imagine você sendo esses jovens pretos e pardos moradores de periferia, como
eu e o rapaz que levava uma dura do policial, a chance de ser assassinado é 4
vezes maior[6].
Mulheres e
negros são 60% da população que está desempregada por mais de um ano[7].
Que curiosamente é a mesma porcentagem de pretos que compõem o total de pessoas
que estão no sistema carcerário hoje.
Muita informação? Pois isso faz constatar uma coisa, Alguma
coisa está muito errada[8]!
Voltando-nos por alguns momentos à figura de Cristo e suas
palavras, nos perguntamos: como Ele lidaria com essa realidade cruenta? Abismados
poderíamos constatar que ele já se manifestara nesse sentido e levantou
bandeiras totalmente atuais.
A opção de
Jesus foi sempre ao lado do pobre, o momento mais obvio dessa posição é quando
declara que o primeiro bem-aventurado é o pobre (Lc.6;20), foi contra as
desigualdades sociais e de gênero assim como as violências praticadas pelos
homens (Lc.10; 30-37 e em Jo.8;5-7), e levantou-se frente a tentativa de
dominação e aniquilação do diferente e ou do descrente em suas palavras,
tentativa essa de seus próprios discípulos (Lc.9;51 à 56). O Jesus que como
homem completamente falho, frágil e impotente como eu me sinto diante da “dura”
do policial, denuncia veementemente o racismo e o sexismo em nossas estruturas
sociais (Jo.4;27) e a violência do Estado (Mc.10;42-43) que não é justo e
oprime, sobretudo o pobre como no exemplo acima[9]. É
necessário lembrar o que João nos afirma: “Aquele que afirma que permanece
Nele, deve andar como ele andou”(1Jo.2;6).
Nosso caminho missionário
Unindo as palavra e atitudes de Jesus a o cotidiano social brasileiro, a Rede Fale Rio de Janeiro adotou, desde outubro de 2013, a campanha Jovens demais pra morrer - Fale contra o extermínio da juventude, que aborda justamente a questão da mortalidade da juventude, em especial dos jovens pobres e negros do Rio de Janeiro.
A campanha começou com vários debates sobre redução da maioridade penal, tema que se mostrou também muito importante e levou Rede FALE e oMonitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) a lançarem a campanha nacional “Fale contra a redução da maioridade penal”. Esta recebeu adesão de líderes evangélicos presentes no Encontro da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) e objetiva colocar em pauta a defesa doEstatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Desde antes do ocorrido com o jovem em Niterói eu já me inteirava sobre o assunto, mas quando o tema deixa de ser teoria para se materializar na nossa frente, é o momento de fazer algo. Por isso, conclamo os amigos de missão estudantil para se sensibilizarem, agirem e participarem da campanha.
Você pode atuar:
- participando das reuniões dos grupos locais da Rede FALE;
- assinando o nosso CARTÃO ;
- participando de grupos e ações que lutem contra a mortalidade da juventude, negação de direitos, contra a redução da maioridade penal;
- orando para que a justiça de Deus corra como água pelo Brasil;
Partindo
dessa reflexão num sentido mais ampliado, unindo cotidiano social brasileiro e
palavra/atitudes de Jesus, a Rede Fale do Rio de Janeiro adotou a campanha que
se ocupa de uma questão seríssima e extremamente complexa: a enorme mortandade
da juventude, dentre os quais encontramos mais pobres e negros, no Rio de
janeiro com a campanha intitulada “JOVENS DE MAIS PARA MORRER”, iniciada com
vários debates sobre redução da maioridade penal, que rapidamente foi alçada à
uma campanha no Brasil inteiro.
Desde antes
do ocorrido com o jovem em Niterói já me inteirava do assunto mas quando o tema
deixa de ser tema, teoria, dados etc para então se materializar na nossa
frente, é o momento de fazer algo. Nesse sentido, conclamo meus queridos amigos
de missão estudantil para se sensibilizar, ficarem atentos ao tema, agir e nos
ajudar na campanha. Você pode atuar: se unindo a nós onde hajam reuniões de
grupos locais do Fale e focar em ações que lutem contra essa mortalidade ou
negação de direitos à juventude em maioria pobre e preta mais próxima de você,
mas também pode assinar nosso cartão e unir-se a outros coletivos que lidem
com esse ou outros tantos temas tão urgentes.
Destarte, é
muito agradável e nos parece pertinente relembrar a figura do Cristo
todo-poderoso mas pobre, o humilde que revela-nos como devemos agir na vida:
“Depois
que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa,
disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor, e
dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós
deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo
que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele
que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”(Jo.13.1-5 e 12-17, grifo nosso).
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Diego Ferreira é estudante de História na Universidade Federal Fluminense (UFF), membro da ABU Niterói e do Fale RJ
Artigo Tirado no Site da ABUB - http://www.abub.org.br/compartilhe/informativos/blog-abub/2013/11/%E2%80%A6-facais-vos-tambem
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[1] http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/08/para-dilma-violencia-contra-jovem-negro-e-pobre-e-questao-grave.html
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[1] http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/08/para-dilma-violencia-contra-jovem-negro-e-pobre-e-questao-grave.html
[5] Mapa da violência 2011
: os jovens no Brasil /Julio Jacobo Waiselfisz. -- são paulo Instituto sangari
; Brasília, dF : Ministério da Justiça, 2011.
[6] Homicídios na adolescência no Brasil: IHA
2008 / organizadores: Doriam Luis Borges de Melo, Ignácio Cano.– Rio de
Janeiro: Observatório de Favelas, 2011.
[8] Citação de Brennan Menning em O evangelho
Maltrapilhono, qual o primeiro capítulo intitula-se: Alguma coisa está muito
errada: “—Alguma coisa está muito errada — disse o auxiliar em tom de
concordância. Dobrando-se aos poderes deste mundo, a mente deformou o evangelho
da graça em cativeiro religioso e distorceu a imagem de Deus à forma de um
guarda-livros eterno e cabeça-dura. A comunidade cristã lembra uma bolsa de
obras de Wall Street, na qual a elite é honrada e os comuns ignorados. O amor é
reprimido, a liberdade acorrentada e o cinto de segurança da justiça-própria
devidamente apertado. A igreja institucional tornou-se alguém que inflige
feridas nos que curam, em vez de ser alguém que cura os feridos. Dito sem
rodeios: a igreja evangélica dos nossos dias aceita a graça na teoria, mas
nega-a na prática.”. Manning, Brennan O Evangelho maltrapilho / Brennan Manning;
traduzido por Paulo Purim.— São Paulo: Mundo Cristão, 2005 p.15.
[9] Reflexão feita pelo amigo seminarista Ronilso
Pacheco.
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